E-mail entregue pela empreiteira Camargo Corrêa ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) citou conversas de executivos de construtoras com a Eletronuclear sobre as estratégias e os preços que seriam apresentados pelo cartel que rateou licitação de Angra 3, formado pelas construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e UTC Engenharia.
As tratativas são de novembro de 2013, dois meses antes da licitação. Funcionários da Eletronuclear teriam orientado os executivos suspeitos de formar o cartel a produzir uma proposta na qual somente um dos consórcios levaria os dois lotes em disputa. O acerto era que, posteriormente, o grupo desistiria de um dos lotes, repassando-o às outras integrantes do esquema para aumentar o preço do contrato o máximo possível.
Além das quatro empreiteiras, são apontadas como participantes do esquema a Queiroz Galvão, a EBE (Empresa Brasileira de Engenharia) e a Techint. Elas foram delatadas pela Camargo Corrêa, que firmou um acordo com o Cade para colaborar com a investigação de conluio nas obras de Angra 3, em troca de punição menor.
Hierarquia
Conforme o relatório, havia uma hierarquia no cartel. Os executivos que atuavam no altíssimo escalão, fixando preços e dividindo o mercado, eram Flávio David Barra (Andrade Gutierrez Energia), preso na semana passada pela PF (Polícia Federal) por suposto envolvimento nos desvios em Angra 3; Dalton Avancini (Camargo Corrêa), que colabora com o conselho; Fábio Andreani Gandolfo (Odebrecht); Petrônio Braz Junior (Queiroz Galvão), Ricardo Ourique Marques (Techint) e Renato Ribeiro Abreu (EBE), além do dono da UTC, Ricardo Pessoa.
No nível alto escalão, Antônio Carlos D’Agosto Miranda (UTC) e Henrique Pessoa Mendes Neto (Odebrecht) fariam os contatos políticos, inclusive com o almirante Othon Luiz Pinheiro, então chefe da Eletronuclear.
Procurada, a Eletronuclear informou que não teve acesso ao processo. Ourique Marques, da Techint, afirmou que o que tinha para falar já “foi dito à Justiça”. A Andrade e a Queiroz Galvão negaram irregularidades. A Odebrecht alegou não ter conhecimento do acordo com o Cade. Os executivos citados não foram localizados ou não responderam sobre o caso. (AE)