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Política E-mails mostram encontros secretos de Bolsonaro com ministros do Supremo após crises com Alexandre de Moraes e Tribunal Superior Eleitoral

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Bolsonaro se encontrou com André Mendonça (D) e outros ministros durante o ano passado.

Foto: Alan Santos/PR
Bolsonaro se encontrou com André Mendonça (D) e outros ministros durante o ano passado. (Foto: Alan Santos/PR)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve encontros “privados”, em pelo menos quatro ocasiões, com interlocutores no Supremo Tribunal Federal (STF). As “agendas secretas” costumeiramente ocorriam quando o ex-chefe do Executivo se sentia pressionado por derrotas políticas e judiciais em 2022, ano em que disputava a reeleição.

Os compromissos fora da agenda oficial ocorreram nos Palácios do Planalto e da Alvorada. A informação está registrada em e-mails de conversas institucionais deletadas pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid.

A quebra de sigilo telemático de Cid permitiu que os e-mails compartilhados com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, elencassem que apenas três ministros do Supremo foram convidados para os encontros: Kassio Nunes Marques e André Mendonça, ambos indicados por Bolsonaro à Suprema Corte; e o decano Gilmar Mendes, que é conhecido em Brasília pela interlocução entre a Justiça e o mundo político.

Nunes Marques

No dia 11 de maio de 2022, Bolsonaro chamou o ministro Nunes Marques, o então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho, e o seu ex-secretário de Justiça José Vicente Santini. O encontro iniciou às 21h e durou aproximadamente uma hora no Palácio da Alvorada.

Os assessores do ex-presidente não registraram o assunto do encontro no e-mail enviado ao então ajudante de ordens Mauro Cid.

Um dia antes do encontro, Bolsonaro havia sofrido derrota para o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que decidiu incorporar o inquérito das milícias digitais ao que investiga o ex-presidente por ataques às urnas eletrônicas.

Gilmar Mendes

Em 23 de fevereiro de 2022, o ministro Gilmar Mendes se reuniu com o então presidente. A agenda mais curta, de apenas 30 minutos, no Palácio do Planalto, teve como o assunto o recado direto do novo comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para Bolsonaro, de que não seriam tolerados ataques às urnas eletrônicas antes, durante ou após as eleições.

Procurado, o magistrado disse que teve reuniões com o ex-presidente durante o mandato, mas que não se recorda de alguma agenda específica em fevereiro do ano passado.

“Estive com ele em alguns momentos de crise”, afirmou o ministro Gilmar Mendes.

Horas antes do encontro, Bolsonaro havia feito um ataque velado a membros do STF e às urnas eletrônicas durante evento em um banco de investimentos.

Ele disse que não é possível comprovar que o sistema eleitoral brasileiro está imune a fraudes.

“Não vai ser o chefe do Executivo que vai jogar fora das quatro linhas. Mas, por favor, vocês dois ou três, não estiquem essa corda. Vocês vão ter que vir para as quatro linhas, afinal de contas todos nós temos limites”, disse em alusão aos ministros da Suprema Corte.

O ministro Edson Fachin tomou posse como presidente do TSE no dia 22 de fevereiro, um dia antes de Bolsonaro se encontrar com Gilmar. Em seu primeiro discurso no cargo, Fachin frisou que a sua gestão seria “implacável na defesa da história da Justiça Eleitoral”.

Bolsonaro foi convidado pessoalmente por Fachin para comparecer à cerimônia, mas se ausentou do evento. Sem citar o nome do então presidente, o magistrado disse que o TSE “não se renderá” a ataques contra o processo eleitoral.

André Mendonça

Em um outro momento de fragilidade do seu governo, quando alguns dos principais nomes da política, do mercado financeiro e do Poder Judiciário aderiram a cartas abertas de defesa à democracia, Bolsonaro chamou o ministro André Mendonça, para uma conversa de aproximadamente 50 minutos no Palácio do Planalto.

A reunião com o ministro foi realizada no dia 28 de julho do ano passado, um dia após a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) aderir à carta pró-democracia organizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

À época, Bolsonaro acusava os documentos da Fiesp e da Faculdade de Direito da USP de serem ‘manifestos políticos’.

Um dia antes do encontro com Mendonça, a carta da USP havia atingido a marca de 165 mil assinaturas, ao que Bolsonaro respondeu dizendo ser um cumpridor da Constituição que não precisa de “apoio ou sinalização de quem quer que seja”.

Um mês antes de se reunir com o ministro Mendonça, Bolsonaro fez outro encontro com Nunes Marques, José Vicente Santini e, dessa vez, com o ministro Francisco Falcão, do STJ.

Mais uma vez, a reunião foi informada aos servidores da Presidência sem contar o assunto que as autoridades tratariam no domingo 12 de junho.

O contexto político daquele período, contudo, registrava uma crise aberta entre Bolsonaro e o STF por conta do decreto de perdão ao ex-deputado federal Daniel Silveira, que havia sido condenado à prisão por dez dos 11 ministros da Corte. O único a divergir foi Nunes Marques.

Além da crise envolvendo o ex-parlamentar, Bolsonaro estava em constante provocação ao Supremo. Um dia antes de se encontrar fora da agenda oficial com Nunes Marques, o ex-presidente realizou uma motociata em Orlando, nos Estados Unidos.

 

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