Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Carlos Alberto Chiarelli | 21 de dezembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
As ondas da praia avançavam na costa de areia. Pessoa nenhuma se via desafiando, porque distante, o ritmado esforço das águas, que avançavam, não tanto como subiam, mas o suficiente para reunir moradores do outro lado da nossa costaneira.
Nos últimos dias choviam notícias e, no Rio Grande, repentinamente descontrolado, o Taquari não respeitou áreas e se deixou levar pela força.
O que avançava diante dos meus olhos era a discussão eminentemente teórica: lago ou lagoa…
Para mim, mais bonito é a imagem das águas dobradas, quase só Suíça; mas também quase só italiana. Tudo isso já me encantara, mas – sem bairrismo – são meritórias e devem comemorar a medalha de prata, já que o Laranjal conquista a cada momento a dourada recompensa de quem é mais.
O dia era de um ciclone, os ventos teriam chegado a 100km, dando a impressão que estavam associados com águas rebeldes. Os moradores passaram a exprimir no rosto que a partir do momento em que as águas da calçada começaram, num ritmo até veloz, a subir, acomodando-se progressivamente no leito da rua, o povo espectador – quase todo – bateu em retirada.
E as ondas do Laranjal faziam, cada vez mais, de enviadas especiais da natureza. Havia um ruído ritmado que acompanhava (ou melhor, marcava) em tempo certo algo parecido com a preamar. Fechando os olhos, tinha a sensação de ouvir o mar, seus murmúrios e suas mensagens.
O tempo passou e eu senti uma comichão na planta dos pés. Era o batalhão precursor das águas que, associadas e macias, faziam questão de avisar que a ação era o romance que se queria retomar das águas do mar com as da lagoa.
As águas tranquilas, com ondas a distância, o vento quase mimoso (de qualquer maneira, respeitoso) deixaram a mim e a meus sonhos: o feito, o não feito ou o que se poderia fazer desde que se soubesse de onde tirar o tempo.
Acompanhado pelo milagre dos ruídos marítimos, acreditei de repente que o real é o fantástico. Mais ainda: que minha solidão, entre dúvidas e felicidades, era um passo a mais de cobrança interior. Era a solitudine que trouxera para a minha história o sonho do menino que recordava o balanço das pacíficas águas do Atlântico, das ondas às vezes até ameaçadoras. Enfim, tudo que levara a sonhar com o que poderia ser – e seria – o depois.
Diga-se, solitudine que dominou meu cérebro é a idade adulta da solidão, é o pedaço de solidão que falta mais ainda; pelo que se sabe só há um dia na vida que talvez possa fazê-las encontrar-se. Será o fruto amoroso da vida sentimento. Há de se esperar que ele destaque esse pedaço afinal devido que não pode faltar a uma vida integral. Tudo isso é o pedaço de solidão que falta; mais ainda, pelo que se sabe, um mistério sensível de cada um de nós. Um dia, talvez, a encontraremos. Haverá a plenitude surpreendente que te trará e nos trará, permitindo com que ela seja capaz de até produzir o bem estar do amar. Difícil de definir, impossível de conceituar.
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional
(E-mails para: carolchiarelli@hotmail.com)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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