A maior patacoada da década foi a da agência de publicidade que vendeu para o governo Temer o slogan “O Brasil voltou, vinte anos em dois”. Ridículo, porque qualquer um pode entender o contrário do que a tal agência queria dizer. Usou a palavra “voltou” como ressurgiu. Deu no que deu.
Será que essa gente não testa os slogans? Cá para nós, são muito burros. Essa agência deve ser aquela que faz propaganda de pregos a partir de um crucifixo onde está escrito a marca “Inri” na parte de cima.
Claro que agora ninguém será o pai da criança. Deve ter sido um trabalho tipo brainstorm. Com work-in-progress. As agências adoram coisas em inglês. Eles não começam: estarteiam! Mas alguém deve ter tido a ideia. Como faço colunismo investigativo, vou contar como foi. Mas não entregarei a fonte. A Constituição garante o sigilo da fonte. Só água mineral diz qual é a fonte!
Imaginem a cena. O pessoal da agência todo de terninho estreitinho (Slim), alguns com camiseta tipo “mamãe como sou forte”, muito gel no cabelo, sanduíches de queijo espalhados sobre as mesas, cartazes de autoajuda na parede, quadros de Andy Wahrol às pampas e o ‘jênio’ (assim mesmo, com j) toma a palavra: “ – Caros e caras. Tive um insight ‘jenial’. O governo precisa se comunicar melhor. Precisa mostrar que, em pouco tempo, fez mais do que os governos de Dilma, Lula e FHC.
Teve já um presidente que não lembro o nome, com sobrenome meio russo, que usou algo como cinquenta anos em cinco. Pronto. Vamos mostrar que Temer fez em dois anos o que não se fez em vinte, dando um giro de 380% no país”.
Aplaudido. Aparecem mais sanduíches de alface, rúcula e tomate seco (qual seria a função social da rúcula? E por que as pessoas que usam ternos slim gostam tanto de tomate seco e rúcula? Vai saber…). E o diretor para assuntos de infraestrutura trouxe várias garrafas de água mineral francesa, porque a agência recebeu uma fortuna pela criação da peça publicitária-revolucionária. O diretor, com seus dentes alvíssimos – nem toma vinho tinto para não manchar – não se contém e manda buscar champanhe. E logo posta no Facebook a foto da Don Perdignon. Claro, sem postar no Face, não vale.
Um colaborador (veja: é colaborador e não funcionário ou empregado – chamar empregado de empregado é coisa para empresas que não vendem peças publicitárias para governos que pagam muito bem) se empolga e puxa o coro: “Brasil, voltou, voltou, vinte anos em dois, em dois! Hip, hip, hurra. Brasil, Brasil. Que Juscelino com sobrenome russo ou polaco que nada”.
O vice-diretor de criação (claro, a agência tem quatro diretores: um de criação, um para entrega de sanduíches, um para despachos horizontais em movimento – é o estafeta, um vice-diretor de infraestrutura – é o almoxarife, sendo o gel para os cabelos fornecidos pela agência) já grita: este ano o prêmio de Publicitário do Ano não tem para ninguém. Um dos diretores baba-ovos (um puxa saco em work in progress) emenda: “- A publicidade voltou: dois anos em um dia”.
E a festa varou a madrugada.
Um retrato do Brasil. Minha fonte jura que isso aconteceu. E tem até a foto dos dentes do diretor da agência.
De todo modo, há malas que vem pelo trem. A peça tem toda a razão. O Brasil voltou, mesmo! Deu um giro de 380% (uma volta sobre si mesmo e mais um pouquinho, por isso, 380). Para trás! Bingo! O dólar vale 4 reais. E o salário mínimo é menos que 250 dólares. Vou ganhar o prêmio de melhor slogan!!!!