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Colunistas E o Japonês da Federal virou artista e comentarista político! Bingo!

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Viajando do interior para a capital, na quarta-feira pela manhã, ouvi pacientemente um programa de rádio cujo nome é em inglês. Chique. Dois apresentadores, as vezes três. Fazem muita graça. Leem Wikipédia e não contam para o ouvinte. E assim por diante. Nisso não vou me meter. Cada um faz como melhor achar.

O que me impressionou foi a pauta desse dia. Entrevista com o Japonês da Federal, Newton Ishii. Disse o repórter, anunciador da boa nova, que o tal personagem não concedia entrevistas e que ali havia um furo de reportagem. Pensei: o que um coadjuvante de quinta categoria na escala alimentar da Polícia Federal e da administração da justiça poderia trazer de novo para merecer uma chamada e tanto espaço em uma rádio tão prestigiada? Sim, sei que ele fez selfie com Bolsonaro (estou sendo irônico), mas, uma pauta longa no rádio?

Bom, sabe-se lá. E começou a entrevista. O Japonês da Federal contou coisas que já foram vistas dezenas de vezes. Falou sobre “de como ficou famoso”. Disse que já era difícil sair em diligências, porque o assédio atrapalhava as operações. Hum, hum.

Finalmente, já depois de 22 minutos, o âncora do programa perguntou sobre a trajetória do personagem, porque contra ele havia processo criminal. Afinal, o Japonês da Federal fora preso em flagrante por descaminho (tipo contrabando). E depois foi condenado. Sim, sua condenação foi de 4 anos, dois meses e alguns dias. Será que usa tornozeleira? Não, caro leitor: ninguém lhe perguntou.

Só que o Japonês explicou que sua prisão e o processo foram “coisas de perseguição” (sic). Ah, bom, pensei. Deve ter o dedo de algum delegado para prejudicar um personagem tão importante da polícia federal. Vá que o próprio juiz Sérgio Moro esteja por trás dessa conspiração para “derrubar” o entrevistado? Que coisa, não?

Interessante que, nos 29 minutos sem intervalo da entrevista com o ilustre personagem, ninguém falou do tamanho da pena que esse levou. Para os entrevistadores, que negam seguidamente a presunção da inocência para outas pessoas (já cansei de escutá-los fazendo juízos morais fortíssimos sobre fatos, personagens e crimes), o caso da condenação do japonês era apenas uma coisa “meio bizarra” (esse juízo é meu). Ou um mero detalhe (aqui não é juízo meu – é constatação).

Também ninguém lhe perguntou sobre a aposentadoria cassada face à contagem de tempo irregular (TCU cassou). Sim, poderiam ter perguntado ao entrevistado por que, em 2009, aposentou-se e depois o TCU determinou que retornasse ao trabalho? E também ninguém perguntou ao personagem sobre ter seu nome citado em gravação na lava jato sobre um plano de fuga (Delcidio, segundo os jornais, falou no nome do entrevistado). Ora, bastava terem consultado a internet, fonte máxima do rádio depois da gillete press.

Japonês contou que agora se aposentou. Embora condenado, não perdeu seu cargo (bom para ele). E será palestrante. Dará cursos. Hum, hum. Pois bem. Uma boa reportagem dissecaria o processo, com datas e outros detalhes. E refletiria acerca do crime cometido pelo entrevistado. Afinal, foi condenado a uma pena alta por descaminho. E, notem: ao que ouvi, Japonês deixou “meio no ar” que ainda há recurso. Fui pesquisar. Não. A decisão condenatória transitou em julgado. Por isso foi preso em 2016 e afastado das operações. Não sou repórter, mas tenho informações. O programa também poderia ter explicado o que é o crime de descaminho (que é facilitar a entrada de contrabando no Brasil – no caso, muamba do Paraguai). Também poderiam ter explicado ao público que, por causa desse crime, o entrevistado ficou 4 meses preso preventivamente. Mas, não. Preferiram a festa.

Daria uma boa matéria, se os entrevistadores não dissessem como ele “era um querido”. E também não precisavam ter colocado a música de carnaval para lhe fazer um agrado. Ao final, o Japonês deu palpites sobre a lava jato e a intervenção militar no rio. Um cientista político. Bingo. Subiu a gasolina e entrevistaram o pipoqueiro.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/e-o-japones-da-federal-virou-artista-e-comentarista-politico-bingo/ E o Japonês da Federal virou artista e comentarista político! Bingo! 2018-03-02
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