Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de janeiro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Cena 1. Num dia lindo e ensolarado, o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar. Pouco depois, passou por ali a doutoranda raposa, que fazia tese sobre o relevantíssimo tema “De como é bom comer coelhos”, e viu aquele suculento coelhinho, tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ela ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa:
Raposa – Coelhinho, o que você está fazendo aí tão concentrado?
Coelho – Estou redigindo a minha tese de doutorado.
R – Humm … e qual é o tema da sua tese?
C – Ah, chama-se “De como os coelhos são os predadores naturais de onívoros como as raposas”.
R – Ora, isso é ridículo! Nós, raposas, é que somos os predadores dos coelhos! Isso está em qualquer livro que trata do assunto.
C- Posso demonstrar o que estou dizendo. Acompanhe-me à minha toca-biblioteca.
O coelho e a raposa entram na toca-biblioteca. Livros à mancheia. Poucos instantes depois, ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. Em seguida o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido.
Cena 2. Meia hora depois passa um lobo, que fazia mestrado. Levava debaixo do braço sua mais recente aquisição, um grosso livro chamado “Como Aprender a preparar coelhos suculentos” Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda, manejando o seu novíssimo Apple. O lobo então resolve saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho e pergunta no que o jovem coelho estava trabalhando.
C – Minha tese de doutorado, bacharel Lobo, é demonstrar que nós, coelhos, somos os grandes predadores de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.”
O lobo não se contém e cai na gargalhada com a petulância do coelho.
C- E posso demonstrar. Acompanhe-me à minha toca-biblioteca.
O Lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca-biblioteca adentro. Alguns instantes depois, ouvem-se uivos, ruídos de mastigação e … silêncio. Mais uma vez o Coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido…
Cena 3. No dia seguinte, passa um Coiote, este cursando mestrado em um curso à meia boca. Sua dissertação versaria sobre “Proteína de coelho: como isso me faz feliz”. Mesma história. Diálogo parecido. O Coelho responde: “ – minha tese de que os coelhos são os predadores dos coiotes”. E, fazendo ar de desdém, deu por encerrada a discussão, não sem antes convidar o visitante a visitar a sua imensa toca-biblioteca.
Na sequência, ambos – coelho e coiote – desaparecem toca-biblioteca adentro. Alguns instantes depois, ouvem-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e … silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido… Seu olhar, agora, era blasé. Como se tivesse pena do mundo.
Na cena que só pôde ser vista em circuito fechado, dentro da toca-biblioteca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foi de lobos, além de ossos de coiotes… Ao centro das duas pilhas de ossos, charutos cubanos e garrafas de Dom Perignon, um enorme Leão, satisfeito, bem alimentado e sonolento, a palitar os dentes… No seu peito estava pendurado um crachá, com a inscrição (bom, o leitor pode preencher à vontade – pode colocar Orientador, Chefe, Relator, Juiz, Procurador, Presidente e coisas que se encaixem, se entendem minha meta ironia).
MORAL DA ESTÓRIA: – Não importa quão absurda é a tese (ou causa) que você pretende sustentar (na academia ou nos tribunais). Basta ter poder. Ou estar ao lado do poder.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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