A moeda mais cobiçada de hoje é a nossa atenção. Em 1970, quando as redes sociais e o fenômeno da Internet eram apenas devaneios de futuristas, Herbert Simon, laureado com o prêmio Nobel de economia, intuía que a saturação das informações à disposição do público implicaria, inevitavelmente, em uma acirrada disputa pela atenção das pessoas. Certamente não foi difícil ao renomado professor concluir que o nosso tempo é inelástico, assim como limitada também é a nossa capacidade de absorver informações. Contudo, dificilmente Simon não ficaria surpreso ao ver, algumas décadas depois, que as suas previsões quanto à competição pela atenção humana seria elevada à enésima potência. Importante destacar que a dinâmica desse quadro, descortinado originalmente por Herbert Simon, tem implicações profundas em vários níveis. Talvez o maior risco esteja na modelagem do comportamento dos consumidores, agora incentivados a permanecer online e interagir constantemente com a inteligência algorítmica para potencializar o engajamento, transformado numa feroz competição entre as empresas de tecnologia.
A par desse fenômeno do mundo digital que remodela as comunicações e a sociedade de forma geral, principia também um conjunto disfuncional que opera uma espécie de retorno selvagem ao darwinismo social, tendo agora como palco o mundo digital das onipresentes redes sociais. Ali, num território ainda inóspito para a grande maioria de desavisados, inescrupulosos descobriram que a mesma sociedade que tão bem acolheu as novidades tecnológicas que encolheram o mundo, continua altamente suscetível aos exageros retóricos, às mentiras em série e a todo um conjunto de narrativas encharcadas de ódio e de presunção do monopólio das verdades. A economia da atenção, embora reconheça que a atenção das pessoas seja um recurso escasso e valioso, assiste indefesa à proliferação sem freios da conectividade sem o aumento concomitante da veracidade e da sabedoria.
Esse aparente paradoxo que a economia da atenção suscita, levanta preocupações éticas e sociais. O impacto no bem-estar mental dos usuários é significativo, com estudos mostrando que o uso excessivo das redes sociais está associado à ansiedade, depressão e uma capacidade de concentração reduzida, com reflexos preocupantes sobre o processo de aprendizagem, especialmente entre os mais jovens. As grandes empresas e plataformas que dominam o setor empregam muitas vezes técnicas de design e algoritmos que exploram as vulnerabilidades cognitivas das pessoas, criando ciclos de dopamina que incentivam comportamentos disfuncionais.
Nesse cenário, a “sociedade líquida”, conceito desenvolvido por Zygmunt Bauman, caracterizada pela instabilidade e fluidez, desintegração das estruturas tradicionais e uma economia calcada no consumismo dentro de uma sociedade individualista, encontra na presente estrutura da renovada economia da atenção, não um anteparo às presunções mais audaciosas da ideologia contemporânea da mentira e do ódio a serviço do engajamento nas redes sociais, mas a sua mais assustadora ratificação. Na economia da atenção, a atenção é um recurso valioso, mas que se traveste, na sociedade líquida em que vivemos, como dispersa e efêmera. Enquanto a sociedade líquida incentiva a superficialidade, a economia da atenção almeja profundidade e engajamento. A competição por atenção, idealizada por Herbert Simon, entretanto, foi solapada pela falta de compromisso e fluidez das relações na sociedade líquida, de Bauman.
Desse modo, como bem lembra Yuval Harari, nossas habilidades em conectar muitos indivíduos caminha lado a lado com crenças em mentiras, erros e fantasias. É por isso que mesmo sociedades avançadas em suas épocas como a Alemanha nazista e a União Soviética foram capazes de abrigar ideias ilusórias e provocar o pior que a natureza humana é capaz de engendrar. De um discernimento tempestivo dessa nova realidade virtual e de uma noção mais adequada do que seja o bem comum, depende o correto encaminhamento deste que é um dos temas mais urgentes de nossa sociedade.
(@edsonbundchen – Instagram)