Segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de dezembro de 2024
Depois da dura decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, ainda trabalha no seu novo cenário, mas ele avalia que a Selic precisará alcançar um patamar entre 14,5% e 15,25% para que o Banco Central consiga levar a inflação para o centro da meta, que é de 3%. “Nas nossas contas, (é preciso) uma Selic entre 14,5% e 15,25%”, afirmou.
Na semana passada, o Copom decidiu pelo aumento de 1 ponto porcentual na taxa básica de juros, para 12,25%, e indicou mais duas altas de mesma magnitude.
A seguir, alguns dos trechos da entrevista concedida ao Estadão.
– O sr. defendia um gradualismo na condução da política monetária, com alta de 0,5 ponto porcentual no juro, para a reunião mais recente. Qual é a avaliação da decisão do Copom?
O Banco Central entregou a alta de juros que estava precificada na curva de mercado. É verdade que ele entregou mais do que a média dos economistas esperava, que era uma alta de 0,75 (ponto porcentual). O Copom, ao incorporar o que tratava como riscos no cenário-base – foi isso que ele escreveu no comunicado, que o cenário ficou até menos incerto, porque os riscos se materializaram –, fez com que a projeção (de inflação) dele ficasse mais alta, de 4% para o IPCA. Portanto, ele preferiu uma estratégia mais firme para assegurar o compromisso dele com o centro da meta (que é de 3%). Foi essa a escolha do Copom.
– Qual será o impacto de ciclo de alta de juros?
Será importante. Nós já estamos com uma taxa de juro restritiva. São vários canais de transmissão que afetam, mas um deles, o câmbio, não está propriamente operacional nesse momento. Mas o canal do crédito e dos investimentos vai ser afetado. Com um juro real entre 9% e 10% como ao que vamos chegar, as empresas com dívida vão ter um resultado pior.
– E de quanto será esse impacto?
O primeiro semestre de 2025 vai estar, de alguma forma, protegido por três grandes fatores. Tem uma safra agro extraordinária e que vai não só produzir um efeito estatístico no PIB, como gerar um pouco de renda para o Centro-Oeste e para parte do Sul e do Sudeste. Tem a regra de valorização do salário mínimo, que prevê uma alta acima da inflação no ano que vem e, portanto, recompõe um pedaço do poder de compra das famílias e dos beneficiários da Previdência. E tem, por último, algo que não é tão simples de medir: um pouco de poupança das famílias que foi acumulada desde a pandemia. Bem ou mal ela permite que suavize (o impacto) no consumo. O primeiro semestre, razoavelmente, está protegido dessa alta de juros.
Agora, eu espero uma economia bem mais fraca no segundo semestre.
– Depois da mais recente decisão do Copom, o banco chegou a revisar a Selic?
Nós vamos revisar. Temos o hábito de divulgar o cenário inteiro mensal. O que eu posso dizer é que, obviamente, o (juro de) 14,25% está garantido na nossa visão. Tem um ponto importante: onde o Banco Central vai parar? Eu preciso me transportar para quando vai ser a decisão dele. Quando chegar a maio ou junho do ano que vem e o BC estiver mirando no final de 2026, um ano e meio à frente, onde vai estar o modelo? Nas nossas contas, uma Selic entre 14,5% e 15,25%, provavelmente, entrega o modelo dele, não sei se a inflação efetiva, mas entrega o modelo dele no centro da meta no final de 2026. Então, eu acho que a gente vai acabar indo para lá. Vamos acabar vendo alguma coisa entre 14,5% e 15,25%.
– E tem chance de o governo diminuir esse ruído com o pacote?
Sempre tem. Sempre é possível resgatar o protagonismo, melhorar o cenário.
– Tem alguma chance de PIB negativo nesse período?
Na margem, sim. Ou seja, acho que tem chances de termos um PIB negativo no segundo semestre do ano que vem. Na média do ano, eu acho quase impossível devido à dinâmica do primeiro semestre. Uma coisa que é importante é que esse é o objetivo da política monetária. Não estou dizendo que é produzir recessão. O objetivo da política monetária é esfriar a economia para que a inflação ceda, as expectativas caiam, e a gente tenha uma situação em que o BC possa cumprir a meta. Nada disso está fora do script de um aperto da política monetária. (Estadão Conteúdo)