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Economistas concordam com diagnóstico do futuro presidente do Banco Central de que poucas vezes o País viveu alta do PIB e do emprego sem forte pressão sobre a inflação

Gabriel Galípolo será o o presidente do Banco Central a partir de janeiro. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

Ao fazer uma leitura da economia brasileira durante a sabatina que precedeu sua aprovação no Senado para a presidência do Banco Central (BC), há duas semanas, Gabriel Galípolo afirmou que o País vive um dos melhores momentos quando se trata de mercado de trabalho e inflação desde o Plano Real.

De fato, os números mostram taxa de desemprego em um dos menores níveis históricos e IPCA dentro do intervalo de tolerância da meta, mas isso não significa que o atual diretor de Política Monetária do BC não terá de liderar aumentos da taxa básica de juros (Selic) quando assumir, a partir de janeiro, a cadeira de Roberto Campos Neto, concordam economistas.

A taxa de desemprego ficou em 6,6% no trimestre encerrado em agosto, boa notícia para os trabalhadores, que inclusive têm conseguido reajustes acima da inflação. Mas o aumento da renda para o consumo não virou gasolina nos preços, como geralmente temem os economistas.

O IPCA acumula alta de 4,2% em 12 meses até agosto, longe da mata de 3%, mas dentro do intervalo de tolerância (de 1,5% a 4,5%) e num patamar baixo para os padrões do País. As séries históricas confirmam que, pelo menos desde 2000, não houve nenhum outro momento de aproximação com uma taxa de inflação tão “baixa” para os padrões brasileiros.

O momento em que estiveram mais próximos, com a inflação dentro da meta, foi em dezembro de 2014, com também 6,6% de desemprego. A inflação bateu 6,41%, mas ainda abaixo do limite superior de tolerância, que era de 6,5%.

O levantamento do jornal O Globo considera tanto a pesquisa do IBGE que mede atualmente o desemprego (Pnad) quanto a anterior (PME), com ajustes do economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira.

Apesar da menção ao bom momento econômico, Galípolo disse aos senadores que o BC tem de “ficar de olho” na inflação e reforçou o compromisso com a meta de 3%, considerando o intervalo de tolerância para acomodar choques. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro, o BC elevou a Selic de 10,5% para 10,75% ao ano. No comunicado, considerou a economia sobreaquecida. A projeção do colegiado para o IPCA no horizonte relevante (primeiro trimestre de 2026) foi de 3,5%, acima da meta.

Para economistas, provavelmente Galípolo terá de conduzir novos reajustes na taxa de juros – por mais que isso desagrade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, apesar de inflação e desemprego baixos. Eles avaliam que essa combinação incomum pode ter sido favorecida por mudanças provocadas na economia pela pandemia, pela Reforma Trabalhista e pela redução estrutural da meta de inflação, mas, para seguir favorável, é necessário que o BC mantenha o cuidado na condição dos juros para não deixar os preços subirem.

“Há cinco anos, ninguém imaginaria que teríamos desemprego abaixo de 8% e inflação ao redor de 4%. É um nível que realmente chama atenção”, diz Andrea Damico, fundadora da Buysidebrazil, que vê cenário semelhante em outros países com a dinâmica de emprego mais flexível após a pandemia, mas não descarta que o impacto inflacionário da renda em alta esteja mais lento que o esperado.

O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, cita a redução da a meta de inflação como um fator que ajuda a manter os preços em níveis comportados. Desde 2018, o alvo inflacionário do BC caiu de 4,5% para 3%.

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