Os efeitos do clima e do câmbio sobre os preços não devem dar trégua para a inflação neste fim de ano e também no início de 2025. A disparada das cotações dos alimentos, em especial da carne bovina por causa da estiagem de setembro, e a desvalorização do real em relação ao dólar – de cerca de 20% acumulada neste ano até outubro – vão continuar provocando estragos nos preços e espalhando a inflação, preveem economistas especializados em preços.
O IBGE divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 0,44%, em setembro, para 0,56% em outubro – o resultado foi o mais elevado desde fevereiro de 2024. Como consequência, a taxa acumulada em 12 meses acelerou pelo segundo mês consecutivo, chegando a 4,76% em outubro e ultrapassando a meta de inflação perseguida pelo Banco Central no ano, que é de 3%, com teto de tolerância de 4,50%. O aumento de custos com alimentos e energia elétrica puxaram o índice em outubro.
Os analistas ressaltam que, apesar dessa alta de outubro e do acumulado no ano, a inflação não está descontrolada. Mas admitem que o cenário inflacionário é desconfortável e foco de preocupação, tendo em vista o regime de metas de inflação. A prova disso é que o Comitê de Política Monetária do BC teve de aumentar nesta semana o ritmo de alta da Selic para 0,5 ponto porcentual, que agora está em 11,25%.
Com atividade aquecida, desemprego em baixa e renda em alta, o cenário tem se mostrado, mês a mês, favorável aos reajustes de preços. Em outubro, 62% dos 377 itens que compõem o IPCA registraram alta de preços, segundo o IBGE. No mês anterior, o índice de difusão, como é chamado tecnicamente, tinha sido de 56%. No grupo alimentos, a difusão passou de 59%, em setembro, para 67% em outubro e nos demais itens, de 55% para 57% no mesmo período. “A inflação está mais difusa”, afirma a economista Maria Andreia Parente, técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea.
Também a economista Andréa Angelo, estrategista para inflação da Warren Investimentos, vê uma aceleração da difusão da inflação nos próximos meses. Ela revisou a projeção do IPCA deste ano de 4,60% para 4,75%. A sua projeção é de que os preços dos alimentos consumidos em casa subam neste ano cerca de 8%, mais que o dobro da inflação total. Somada à disparada da alimentação, a desvalorização do real também deverá pesar. “O tempo de repasse do efeito do câmbio para os preços está cada vez mais rápido.”