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Economistas do mercado veem inflação maior, mas não recomendam aceleração de alta de juros

A recomendação de uma política monetária mais cautelosa poderia se justificar pelos riscos de a inflação ficar abaixo do projetado. (Foto: ABr)

Os economistas do mercado financeiro consultados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central antes de sua reunião de novembro projetam inflação mais alta, que cai muito pouco ao longo do tempo e fica sempre acima da meta. Ainda assim, recomendam que a alta na taxa básica de juros siga no ritmo atual de 0,5 ponto percentual por reunião.

O questionário pré-Copom, que foi divulgado nessa quinta-feira (14), mostra que os analistas econômicos subiram de 3,95% para 4,04% a sua projeção de inflação para 2025. Para 2026, informaram uma previsão de 3,7%. Nos dois casos, acima da meta de inflação, que está definida em 3%.

Apesar disso, 69% dos 123 analistas consultados recomendam que a alta da Selic no próximo encontro, que ocorre em dezembro, seja de 0,5 ponto percentual. Na semana passada, o comitê subiu os juros de 10,75% ao ano para 11,25% ao ano. As opções do Copom negociadas na B3 davam ontem 45% de chance de alta de 0,5 ponto e 54% de 0,75 ponto ou mais na reunião de dezembro.

A recomendação preponderante para a reunião de janeiro, feita por 53% dos analistas, é também uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic. O viés das recomendações, porém, é por fazer menos, já que 43% dos analistas defendem alta de 0,25 ponto.

O questionário pré-Copom é diferente do boletim Focus, que sai todas as semanas, porque o BC pede aos analistas também as suas recomendações, e não apenas as suas previsões.

Há dúvidas se todos os analistas são sinceros nas suas recomendações ao BC, com quem em geral gostam de manter uma boa relação. Suas opiniões podem apenas estar espelhando a comunicação do Copom. Ainda assim, há uma inconsistência em sugerir um caminho mais suave para o juro e, ao mesmo tempo, prever que a inflação irá cair pouco e ficar acima da meta.

Em tese, não haveria maiores problemas se, ao mesmo tempo, os analistas passassem a projetar uma taxa maior no fim do ciclo de alta de juros. Eles puxaram de 10,5% ao ano para 11,5% ao ano a previsão dos juros ao fim de 2025. O BC não colhe recomendações sobre a Selic que os analistas consideram adequada no longo prazo.

O que chama a atenção é que a recomendação de uma política monetária mais moderada vem acompanhada de um cenário inflacionário que, na visão dos mesmos analistas, é bastante desfavorável, com riscos pendendo para o lado mais negativo.

Política monetária

Eles preveem que a inflação subjacente de serviços, que é mais influenciada pela política monetária, vai recuar levemente de 2024 (5,3%) para 2025 (4,9%) e seguir acima não apenas do centro da meta (3%) como do limite superior do intervalo de tolerância (4,5%). O mercado também puxou para cima a sua projeção para os núcleos de inflação em 2025, de 3,9% para 4%.

Em tese, a recomendação de uma política monetária mais cautelosa poderia se justificar pelos riscos de a inflação ficar abaixo do projetado. Mas a pesquisa mostra que os riscos estão desequilibrados para cima.

Segundo o questionário, apenas 2% dos analistas acham que os riscos baixistas para a inflação preponderam para o ano de 2025, enquanto que 33% acham que se equilibram e 65% consideram que os perigos altistas são os mais importantes.

Também aumentou a proporção de analistas que acham que os riscos fiscais pioraram: eram 29% em setembro e, em novembro, chegaram a 38%. A maioria (56%) acha que ficou estável e a minoria (6%) vê estabilidade em novembro. As informações são do Valor Econômico.

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