Após bater o recorde de R$ 5,9124 na cotação de fechamento de quarta-feira (27), o dólar comercial encerrou as negociações nessa quinta-feira (28) mais uma vez em forte alta de 1,30%, a R$ 5,9891. Desta forma, a moeda renovou a máxima histórica, com o real no menor patamar nominal em relação à moeda americana desde a sua criação, em 1994.
O dólar chegou a ultrapassar os R$ 6 durante o dia. Foi negociado a R$ 6,0029 às 13h12, na máxima dessa quinta-feira, quando o mercado financeiro reage negativamente aos detalhes do pacote de cortes de gastos apresentados hoje pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O valor supera a máxima histórica intraday (marca mais alta durante o dia, ainda com as negociações abertas), quando alcançou R$ 5,97 em 13 de maio de 2020, auge da pandemia.
Na véspera, a moeda americana subiu com força diante da informação de que o aguardado pacote de medidas de cortes de gastos viria acompanhado com o anúncio de que o governo vai isentar de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil. Na quarta, a moeda encerrou no maior valor nominal da história do Plano Real, a R$ 5,91.
Os analistas avaliaram que a medida terá um impacto fiscal que vai erodir parte da redução de gastos prevista nas outras medidas. E, ainda, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu enfraquecido de um embate dentro do governo, prevalecendo a visão de que era preciso politicamente mostrar que o presidente Lula também iria cumprir sua promessa de campanha sobre o Imposto de Renda.
“Era esperado que viesse um corte dos gastos, e apareceu um novo gasto”, afirma Charo Alves, analista da Valor Investimentos. Segundo ele, a falta de clareza do detalhamento de onde virá a quantia para compensar a isenção no Imposto de Renda impacta o câmbio.
Em relatório, o economista-chefe da Warren Investimentos Felipe Salto afirmou que “a mudança no IR preocupa, porque poderá representar perda de receita”. Salto diz que, apesar do anúncio indicar uma estimativa de economia de R$ 70 bilhões, o montante pode ser inviabilizado pela proposta de isenção, sendo insuficiente para alcançar a sustentabilidade da relação dívida/PIB.
Entre as divisas mais líquidas (com facilidade de ser trocada e negociada), o real era, no final das negociações no Brasil, a moeda que mais se desvalorizava frente a moeda americana.
O iene perdia 0,28% frente a moeda americana; o euro, 0,09%, enquanto a libra avançava 0,06%. Entre as moedas emergentes, o dólar perdia força: o rand, da África do Sul, valorizava 0,43%, enquanto o peso mexicano subia 0,72%.
Selic a 14,75%
A curva de juros abriu o dia em estresse, diante da desconfiança com as medidas anunciadas no pacote de revisão fiscal e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
A taxa de depósito interfinanceiro (DI), que baliza contratos negociados no mercado, abriu o dia em alta ao longo dos vértices. Para janeiro de 2026, a taxa era negociada a 13,725%, 0,12 p.p. acima do fechamento de ontem, de 13,5%. Com a desconfiança, o mercado já vê a Selic alcançando 14,25% no fim do ciclo de aperto, em novembro de 2025.
Durante o anúncio das medidas nesta manhã, o ministro Fernando Haddad afirmou que não acredita em “bala de prata” e que o mercado financeiro precisa fazer uma releitura e colocar em xeque “profecias não realizadas” em relação a projeções de crescimento econômico e de resultado primário.
“O mercado tem que fazer releitura do que o governo está fazendo. Tanto no crescimento e no déficit o mercado errou”, disse, afirmando que o ajuste não se encerra com o pacote.
O governo detalhou na quinta as medidas do pacote fiscal que foram anunciadas na noite de terça-feira pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Entre elas estão idade mínima para aposentadoria dos militares e mudanças nos parâmetros de reajuste do salário mínimo. O pacote terá impacto de R$ 70 bilhões em dois anos. Até 2030, economia será de R$ 400 bilhões. As informações são do jornal O Globo.