O jornal O Estado de São Paulo é, para mim, leitura obrigatória – o melhor jornal do país. O Estadão prima, em cada palavra e linha, pela integridade da informação, pela fidelidade aos fatos, pela elegância e qualidade do texto.
Não, senhores, não estou dizendo que o Estadão não erra. Mas mantém sempre as antenas ligadas para a qualidade jornalística, a boa escrita, a objetividade do fato e conteúdo, até onde isso é possível – o que vem a ser a essência da notícia confiável. Com a Folha e o Globo formam o trio dos grandes jornais brasileiros.
Mas o que mais me atrai no Estadão é a linha editorial; mais precisamente os editoriais. O jornal não abre mão de um padrão elevado nas suas “Notas e Informações”, de abordagem crítica, de juízo pertinente e de estilo elegante, sobre todos os assuntos candentes na mídia. É raro, muito raro, que escorregue no panfletismo, na grosseria, na vulgaridade para ferir um ponto ou criticar uma autoridade. Jamais seriam escritos por um desses bolsonaristas rombudos que hoje frequentam o cenário político do país.
Eis três exemplos resumidos de editoriais do Estadão, que dão uma ideia apenas vaga da força editorial, da fineza da escrita e das razões republicanas que norteiam e caracterizam o jornal.
O Estadão, que sempre foi contrário à legalização das apostas online, entretanto, reagiu com veemência quando o governo sugeriu como solução que beneficiários do Bolsa Família não poderiam usar aqueles recursos para fazer apostas:
“Ora quem quer apostar sempre dará um jeito de arranjar dinheiro, seja com cartão de crédito, pix, dinheiro vivo ou transferência bancária. Do mesmo modo, quem quer beber até cair também dará um jeito de pagar pela bebida alcoólica. Ou seja, proibir que se use este ou aquele meio de pagamento para apostar se presta apenas a aliviar as consciências das autoridades que passaram anos a se omitir diante de um problema sério desde a origem”. ( editorial DE 18/9/24).
Incomodado pelo voluntarismo do ministro Flávio Dino, um editorial de setembro diz: “Alguém precisa dizer a Flávio Dino que a sua função é de ministro do STF, mas ele parece convencido de que também deve governar e legislar, em nome da salvação ambiental do país.
Dino, decerto imbuído daquelas boas intenções das quais o inferno está cheio, além de usurpar competências do Presidente da República, sem ser incomodado por seus pares do STF, e sobretudo pelo usurpado, agora avança, pasme o leitor , sobre as prerrogativas do Congresso de propor emendas ao texto constitucional. E pior, por via indireta”. O título é um achado: “O Ministro Três em Um”.
Alexandre de Moraes é alvo comum das certeiras críticas do Estadão, em outro editorial: “(Moraes) determinou à PF que investigue perfis que se utilizaram a plataforma X após a sua suspensão, através de um dispositivo especial (VFP), para impor uma multa de R$ 50 mil àqueles que fizeram uso extremado do dispositivo”. “Moraes, não contente em concentrar a função de investigador, acusado e juiz, usurpou o papel de legislativo”, (…) e, outro achado, “intoxicado pela fumaça do mau direito.”
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