As eleições de 2022 trouxeram números que acenderam o sinal de alerta em um dos partidos mais tradicionais do País. O PSDB, que rivalizou com o PT nas gestões Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, se viu desidratado e sem o mesmo tamanho que um dia teve. É nesse cenário de encolhimento que o governador reeleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, assumiu a presidência nacional do partido nesta quinta-feira (2).
Tanto para o ex-presidente do PSDB e candidato à Presidência da República em 2014, Aécio Neves, e para a cientista política Deysi Cioccari, o contexto atual se dá por uma “série de erros”.
Eduardo Leite
No cenário de desidratação do partido, Eduardo Leite assumiu a presidência da sigla não só com a responsabilidade de reerguer o PSDB, mas também de ser uma das apostas para as futuras eleições nacionais. Deysi analisa que Leite “teve pedras no caminho que não soube lidar”, além de falar que o governador gaúcho também seria “um dos responsáveis pela desidratação do partido”.
“O Leite teve algumas pedras que não soube lidar. Não ter respeitado as prévias do partido, falar que não disputaria a reeleição e depois disputar foram pontos que mancham a imagem pública dele. Ele é um dos responsáveis pela desidratação do partido”, disse.
Porém, ela projeta “um futuro promissor” para Leite, principalmente visando as eleições de 2026. “Ele tem um potencial grande para 2026, sendo um governador jovem, reeleito, defende pautas progressistas, mesmo sendo de direita, foi contra um conservadorismo extremo ao se assumir gay. Então tem um caminho que ele pode trilhar, e ele sabe disso”, completou.
Nome de consenso
Aécio define o novo presidente tucano como “um nome de consenso” e se disse “extremamente animado” com a nova gestão. “É um nome de consenso para iniciar uma nova etapa no PSDB e mostrar que existe vida inteligente fora desses dois polos [petismo e bolsonarismo]. Nós devemos deixar claro que o PSDB é oposição ao PT, mas defende a democracia. Estou extremamente animado com essa nova fase do partido”, relatou.
Em nota, o ex-deputado Bruno Araújo (PE), que presidiu o PSDB até a última quarta-feira (1º), classificou Leite como uma liderança “promissora”: “Uma honra também saber que a liderança do partido será entregue a novas e promissoras lideranças, que estão representadas na figura do governador Eduardo Leite”.
Os desafios para o PSDB
Tendo em vista esse contexto, a gestão de Eduardo Leite pode definir a “sobrevivência” do PSDB “como um partido relevante”, segundo analisa Deysi. Ela ainda aponta as próximas eleições municipais, que serão em 2024, como um “primeiro desafio”.
“O principal desafio é fazer o PSDB sobreviver como um partido relevante. Ele [Leite] foi um dos responsáveis pela destruição do partido, então é algo que ele vai ter que aguentar. É chegar em 2026 como um partido forte e já tem um desafio no ano que vem, nas eleições municipais, mas o principal desafio é manter o PSDB vivo e interessante”, disse.
O PSDB e as eleições
Atualmente, o partido conta com 13 deputados federais. Para se ter ideia, a bancada tucana elegeu 54 parlamentares na Câmara em 2014 e 29 em 2018. No Senado, a sigla passa ter apenas três senadores, já contando com a saída de Mara Gabrilli (PSDB), que, no último domingo (29), anunciou a saída para o PSD. Ela ficou no PSDB por 19 anos.
Em 2015, o PSDB começou a legislatura no Senado com dez parlamentares. Em 2019, o partido iniciou o ano com oito integrantes na Casa. Nas disputas estaduais, o partido conseguiu apenas três estados (Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso), além de perder o comando de São Paulo, o maior estado do país e que historicamente era de domínio tucano.
Na comparação com as eleições anteriores, os tucanos fizeram cinco governadores em 2014. Em 2018, foram três.