Com o Rio Grande do Sul inundado e ainda contabilizando o total de mortos na maior tragédia climática do País, o presidente do PSDB, Marconi Perillo, afirmou que o governador do Estado, Eduardo Leite, é o nome do partido para disputar a Presidência da República em 2026, como um eventual adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele é e continuará a ser o pré-candidato do PSDB à Presidência”, afirmou Perillo.
Desgastado desde o início da crise climática no Rio Grande do Sul, e colecionando declarações polêmicas em que precisou depois se desculpar, Leite é o primeiro governador reeleito na história do Estado. Agora, nos quase dois anos e meio que faltam para o término do mandato, terá que lidar com uma catástrofe de dimensões ainda não totalmente conhecidas. A tragédia também vai comprometer ainda mais o caixa do Executivo estadual e sua capacidade de investimento, um dos desafios de Leite antes mesmo das enchentes de maio.
O governador deixou o comando do Estado em 2022 pensando em se lançar à Presidência da República, mas mudou de ideia – diante de um cenário que lhe era adverso – e decidiu pela reeleição. Ele enfrentou no segundo turno um candidato bolsonarista (Onyx Lorenzoni, do PL) e foi eleito graças ao voto do PT – representado por Edegar Pretto, que ficou em terceiro no primeiro turno. Sem espaço internamente no PSDB, deixou o comando da sigla em setembro do ano passado por força de decisão judicial.
Sem um sucessor claro no seu grupo político, Eduardo Leite, como dizem aliados e adversários no Rio Grande do Sul, terá obtido muito se conseguir terminar o mandato no Estado com o capital político mais ou menos intacto. Além da pressão de bolsonaristas, ele também vem sendo assediado por integrantes do governo federal. A União terá papel central na reconstrução do Estado, em especial na destinação de recursos, muito maiores que aqueles do próprio Executivo estadual.
Conforme o jornal Valor, houve uma mudança de postura de Leite em relação ao governo Lula e aos esforços federais para a reconstrução do Estado. O governador recebeu em Porto Alegre, no início da semana, o ministro José Múcio (Defesa), que lembrou ao interlocutor que, em 2026, haverá duas vagas em disputa no Rio Grande do Sul. A sugestão de Múcio era que o tucano deveria compor com Paulo Pimenta, indicado pelo presidente Lula para ser o representante do seu governo na reconstrução.
“Nenhum governador enfrentou, nem de longe, o que ele está enfrentando agora. Vejo ele passando esse momento com muita altivez e garra”, defendeu Perillo.
As recorrentes declarações polêmicas de Leite, como quando disse que o excesso de doações poderia afetar o comércio local, ou a admissão de que recebeu alertas sobre a ameaça das águas, mas que seu governo estava focado em outras “pautas e agendas”, desgastaram o governador, que precisou vir a público, pelo menos nessas duas ocasiões, para se retratar.
“Tem a ver com o stress, por estar sempre no limite, por isso ele fala coisas que as pessoas não compreendem direito”, justificou o correligionário. “Mas é melhor ser sincero e humilde do que hipócrita.” Perillo ressaltou a autenticidade de Leite nesses momentos, sobretudo para reconhecer depois o equívoco.
Ex-governador de Goiás e ex-senador, Marconi Perillo assumiu a presidência do PSDB após a queda de Leite do comando, no final do ano passado.