Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Ali Klemt | 14 de abril de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A educação está toda errada. Toda. Eu não tenho mais dúvida alguma sobre isso.
Retomar o currículo escolar aos 44 anos tem me feito refletir sobre a inutilidade da maior parte do conteúdo ensinado. Ou melhor, vou reformular: tem me feito refletir sobre a terrível forma de ensinar à qual ainda nos submetemos.
Estamos em 2024, em meio à revolução da Inteligência Artificial, mas o ensino ainda segue bases similares a de três séculos atrás (quase, porque que eu saiba, as crianças não ajoelham mais no milho, pelo menos). Estudar, contudo, ê chato: decoreba, textos, fórmulas. Tudo tão… maçante.
Sou uma entusiasta de aprender. Sigo sendo uma eterna aprendiz! Mas entender a importância do aprendizado requer maturidade – coisa que crianças e adolescentes, obviamente, não têm.
Paralelamente ao meu papel de mãe que precisa reaprender geometria, mais eu estudo sobre desenvolvimento pessoal, espiritualidade, felicidade e sucesso. E mais eu me convenço de que o sistema de ensino tradicional é arcaico, defasado e, sobretudo, desinteressante. Obrigamos nossos filhos a passar horas a fio parados, sentados, “engolindo” conteúdo. A maior parte dele sequer será lembrada, mais além. Que jogue a primeira pedra quem realmente acredita que aprendeu tudo que foi ensinado na escola…
Eu entendo. Ainda temos que ser conteudistas para nos julgarmos competitivos. Porém, lembrem-se: as profissões de nossos filhos talvez sequer existam hoje.
Oportunizar conhecimento é essencial. Porém, na medida em que as crianças crescem, naturalmente, interesses despontam e devem ser valorizados. O ensino horizontal- isto é, aprender com os colegas, ao invés de apenas verticalmente, a partir do que é passado pelos professores – faria muita diferença. Professores bem remunerados, sem dúvida, teriam menos preocupação com boletos e poderiam se dedicar a ser os mestres inspiradores que tão profundamente modificam vidas. Escolas de ponta já têm esse olhar, mas tal realidade ainda não é acessível a maior parte da população brasileira.
O que mais me impressiona, porém, é como ainda não “abrimos os olhos” para a educação da criança enquanto ser humano completo. Aspectos como inteligência emocional, espiritualidade, Mindfulness, criatividade, empreendedorismo e assistência social são muito pouco explorados. Mesmo Filosofia se reduz a decoreba. Tudo o que, efetivamente, pode promover mudanças internas simplesmente não existe na grade. Ou seja, o que nos identifica e nos forja como seres humanos não faz parte do currículo escolar.
Alguns dirão que tais aspectos devem ser ensinados em casa. Porém, vivemos em um país de tantas mazelas sociais, em que crianças vão para a escola com fome para garantir uma refeição por dia (e não para aprender), que é indispensável pensar no papel da escola como formador de cidadãos.
Penso que já aprendemos que encher a agenda das crianças apenas as estressa e não formará, necessariamente, profissionais melhores. Na verdade, somos a prova de que um monte de qualificações no currículo pode ter pouca utilidade se tivermos uma alma escassa, e que excesso de competências é melhor aproveitada se relativas a experiências vividas…
Será que não deixamos pelo caminho a paixão pelo conhecimento e, consequentemente, pelo ofício?
A questão é que falta espaço para reflexões, descobertas e invenções. Falta tempo para pensar em si mesmo e sobre – lua, as estrelas e o universo. Falta curiosidade para entender sobre as coisas da terra, da água e das…minhocas! Falta interesse em questões fundamentais do nosso ser.
Estudar a si mesmo é o que há de mais essencial antes de olharmos para os outros. O que sinto, como reajo, como vivo em grupo. Questionar quem somos e porque estamos aqui. Como abraço o mundo. Qual o meu sonho, afinal.
Pode soar utópico, mas precisamos fazer as crianças retomarem o amor pela essência. Porque, no fundo, é ela que vai nos diferenciar daqui pra frente. Informações, temos à disposição, basta teclar. Emoção, paixão e empatia… Ainda não sei se são capazes de serem artificialmente recriadas.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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