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Efeito El Niño, com seca e chuvas fortes, é o novo inimigo de Lula no combate à inflação

A safra recorde de grãos ajudou a gestão 3 de Luiz Inácio Lula da Silva a driblar as expectativas econômicas pessimistas durante o seu primeiro ano. (Foto: CNA/Divulgação)

Uma safra recorde de grãos ajudou a gestão 3 de Luiz Inácio Lula da Silva a driblar as expectativas econômicas pessimistas durante o seu primeiro ano como presidente do Brasil. Mas a inconstante “Mãe natureza” está prestes a dificultar a repetição do feito em 2024.

O El Niño, um fenômeno climático com histórico de afetar potências agrícolas como o Brasil, voltou com força total na América do Sul, desencadeando chuvas torrenciais em algumas partes do País e deixando outras extremamente secas.

Como resultado, preços de produtos básicos (como arroz e as batatas) dispararam, desafiando tanto os planos do Banco Central de continuar os cortes na taxa de juros, conforme exigido por Lula, como suas promessas de campanha de reduzir os preços para os brasileiros.

Em dezembro, a inflação em 12 meses continuou a desacelerar dentro da meta do Banco Central (BC), de acordo com os dados do IBGE divulgados na semana passada.

Mas os preços dos alimentos contrariaram a tendência, à medida que os efeitos climáticos do El Niño, que já afetaram a produção e causaram problemas em regiões da Ásia, começaram a atingir o Brasil.

Ficaram mais caros o arroz, o feijão, as frutas e as batatas devido às altas temperaturas e às fortes chuvas. A alimentação no domicílio, onde os efeitos são mais evidentes, ficou 1,3% mais cara em dezembro, bem acima da alta de 0,75% observada em novembro.

Os economistas estão revisando para baixo as estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. E se o fenômeno climático se mostrar tão intenso como foi há quase uma década, poderá agregar 0,8 ponto percentual à inflação geral, na passagem de 2023 para 2024. É o que estima a maioria dos analistas que participaram de pesquisa do Banco Central em dezembro.

O El Niño fez com que o BC aumentasse as suas estimativas de inflação, disse Diogo Guillen, diretor de Política Econômica da autoridade monetária, em evento virtual na última semana. Mas acrescentou que “não é algo que muda tudo”.

Na América do Sul, o Peru e a Colômbia enfrentam os maiores riscos relacionados ao El Niño, devido aos potenciais impactos na energia hidrelétrica, na agricultura e na pesca, segundo William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics.

“Em termos de riscos, o Brasil está em algum lugar no meio”, disse Jackson.

Algumas áreas do Brasil também podem se beneficiar das tempestades relacionadas ao El Niño. Mas a importância da agricultura para a economia significa que mesmo pequenos impactos nas culturas podem representar riscos consideráveis. Os meteorologistas veem os efeitos do El Niño na América do Sul começando a enfraquecer.
Mesmo que o El Niño continue relativamente ameno, o setor agrícola não deverá apresentar crescimento em 2024, avalia Felippe Serigati, pesquisador do centro de estudos do agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Outros efeitos do El Niño já são mais claros. Tempestades extremas no sul do Brasil, importante área de produção agrícola, causaram inundações que atrasaram o plantio deste ano no Rio Grande do Sul, o principal estado produtor de arroz do país. Como resultado, os preços do arroz no atacado aumentaram 40% em 2023 e, só em dezembro, aumentaram quase 6%.

“O custo da colheita deste ano aumentou significativamente devido aos desafios climáticos”, disse Alexandre Velho, agricultor e diretor da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

 

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