O Brasil a cada 10 anos lamenta uma década perdida. A nossa marcha é lenta, avançamos um pontinho aqui outro acolá, mas mal saímos do lugar. Estamos como que presos a uma armadilha, que só nos permite uns breves vislumbres de prosperidade.
Os governantes de qualquer tempo insistem na exaltação do seu período de governo, das suas obras e realizações, contando para isso com os comuns exageros de retórica, a visão otimista que todos eles têm a respeito de si mesmos, e com o uso e o abuso das estatísticas que, bem manejadas, servem a todas as causas e todos os argumentos.
Mas a verdade essencial permanece inalterável: estamos sempre patinando, andando de lado, quando não voltando para trás, como no caso da indústria, que já teve certa pujança, mas agora afunda em atoleiro sem fim.
E estranhamente, quando algo dá certo, parece sofrer do enigma de Tom Jobim, segunda o qual, para os brasileiros, o sucesso é uma ofensa pessoal, como no caso do agrobusiness: o setor, quanto mais cresce, quanto mais apresenta números e bate recordes, mais é questionado. Em certas áreas da política o apoio, o reconhecimento é para “produção do arroz orgânico” do MST!
E o que não dá certo no Brasil? Uma das causas está, com rigorosa certeza, no apego à nossa opção preferencial pelo Estado, a ideia de que a solução para os nossos problemas virão do governo e do Estado. Não virão. Faz tanto tempo que acreditamos nessa teoria, e tanto tempo que a levamos à prática de todas as maneiras que, se funcionasse, já deveríamos estar nadando de braçada no mar da riqueza e da prosperidade.
O Tesouro está sempre em petição de miséria. O tempo todo temos de ir ao mercado buscar dinheiro para pagar as contas e obrigações. E vamos ao mercado reclamando dos juros, que são o efeito, não a causa. Certos governos, como o atual, preferem se convencer e convencer os outros, que a culpa é do Banco Central, é do Roberto Campos Neto, e de banqueiros desalmados que manipulam os dados para encher a pança e as sacolas de dinheiro. Quando falta dinheiro apelamos para a velha solução de aumentar os tributos.
Reduzir gastos, racionalizar custos, evitar desperdícios? Nada disso está na ordem do dia. Priorizar a educação, propor um plano nacional que envolva todos os entes – União, estados, municípios, sociedade civil, o mundo empresarial? Ninguém propõe. Tudo é administrado de forma superficial, improvisada. Ninguém aceita ser avaliado. Os protagonistas da educação brasileira – todos – se esmeram em procurar os culpados pelo baixo nível do ensino. E todos se esmeram em dizer que são os outros – eles não têm culpa de nada.
Nessa batida sinistra, na quase falência em que estamos, dói saber que a previdência e a folha de pagamento do pessoal consome quase 80 por cento de todo o gasto público. Na conta final, ainda cabem recursos para subsídios, desonerações, favores e mercês para quem não precisa.
Gastamos muito e gastamos mal. No Estado brasileiro, a eficiência, a qualidade ao menos razoável dos serviços em educação, saúde, segurança e justiça, não está na pauta. O que está na pauta é tão somente ter dinheiro para a gastança.