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Elas sofreram assédio: famosas relatam abusos em campanha que vai virar livro

A atriz brilha na pele de uma esposa submissa na novela global "Órfãos da Terra". (Foto: Divulgação)

Aconteceu em frente à casa da minha madrinha, eu tinha uns 12 anos. Vestia uma blusa azul de alça, larguinha, com alguns detalhes desenhados. Nunca me esqueci daquele dia. Na época, partes do meu corpo ganhavam volume, anunciando a chegada da adolescência, o que aguçou a mente de um tio que eu gostava muito.

Enquanto brincávamos, ele disfarçou e puxou a minha blusa com força, na tentativa de ver meus seios. Consegui bloquear a ação dele, e tentei acreditar que aquilo não passava de uma brincadeira. Quando me tornei mulher, identifiquei a maldade naquele ato dele. Nunca contei para ninguém. Foi o meu #primeiroassédio.

Exposição de experiências.

Assim como eu, jornalista que escreve esta reportagem, anônimas e famosas como Letícia Sabatella, Rachel Ripani e a delegada Monique Vidal resolveram contar suas experiências incentivadas pela campanha Primeiro Assédio, criada pelo coletivo Think Olga, depois de uma participante de 12 anos, do “MasterChef Júnior”, da Band, ser assediada com comentários de cunho sexual após sua estreia no programa.

Letícia Sabatella usou seu Facebook para contar o assédio que sofreu na infância. “Um carro, um corcel vermelho, vinha pela rua ampla, reta e longa, parou à minha altura, perguntou-me: ‘Qual o nome dessa rua? Hein? Não consigo ouvir’. Eu falei mais alto, ele fez com que eu me aproximasse do carro. Foi então que percebi seus olhos verdes avermelhados e estatelados, um pau gigantesco em suas mãos, o olhar doente e pessimamente intencionado!”, revelou a atriz.

Rachel Ripani também abraçou a causa e relatou que sofreu abuso aos 7 anos. “Com a minha família na sala, um primo de 19 anos recém-saído do exército me pediu para ver meu quarto novo. Chegando lá, ele me empurrou sobre a cama, me segurou, baixou minha calcinha e me chupou. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, a sensação horrorosa de que tinha algo muito errado, ele tapando minha boca, eu imobilizada”, escreveu.

Relatos deverão ser publicados.
Para que depoimentos tão importantes como esses não se percam com o tempo, a professora de literatura Giovanna Dealtry vai publicar um livro virtual (que pode se tornar impresso futuramente) com relatos de quem já teve esse tipo de experiência. Mas é preciso que a pessoa autorize que sua história seja exposta em uma publicação, mesmo que anonimamente.

“Em breve, esse arquivo estará disponível no site de forma gratuita, e vai virar um documento para entrar na vida das pessoas. É importante que essas vozes não se calem”, conta Giovanna.

“Não quero que essa campanha passe como uma modinha de internet e isso se perca. Muita gente fala que essas coisas só acontecem na roça ou porque os pais não cuidam”, avalia a professora. “É necessário mostrar a realidade, ainda mais nesse momento, onde temos um congresso conservador. As mulheres já têm poucos direitos, precisamos mudar esse cenário”, sugere. (Patrícia Teixeira/AD)

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