Jair Bolsonaro imaginou as eleições de 2024 como momento ideal para mostrar que, mesmo derrotado em 2022 e inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda é a liderança com maior força de mobilização no Brasil. O cálculo era de que, considerando a união da direita em torno dos nomes que ele ungia, seria possível fazer agora o que não foi possível em 2020, quando a pandemia impediu que o debate das pautas de seu grupo e, sobretudo da segurança pública, garantisse uma onda conservadora nas prefeituras como se viu nas disputas legislativas federais dois anos depois. Até aqui, vem dando errado.
O caso de São Paulo é o mais simbólico. Bolsonaro queria um nome que representasse exatamente o núcleo de seu eleitorado mais convicto e acabou convencido por Valdemar Costa Neto e Tarcísio de Freitas de que era melhor abraçar o prefeito Ricardo Nunes (MDB), um nome mais palatável para parcela moderada do eleitorado. O cálculo era simples: como uma rejeição acima de 60%, Bolsonaro precisava de um candidato que não parecesse com ele. Faltou combinar justamente com o eleitor mais convicto que, a despeito da análise de que um moderado tinha mais chance, fincou pé na candidatura de Pablo Marçal.
Bolsonaro sentiu o cheiro do perigo ao perceber que o ex-coach poderia se tornar uma ameaça a seu domínio na direita. Seus filhos foram às redes tentar demoli-lo. O assessor Fábio Wajngarten vaticinou que ele iria derreter após ousar desafiar o mito. A reação dos seguidores e a primeira pesquisa após o início desse esforço mostraram que pode não ser tão fácil assim. E o bolsonarismo, envergonhado, voltou a dialogar com Marçal mesmo após o ex-coach humilhar os filhos do presidente nas redes sociais. Não significa ainda uma mudança de lado, mas a abertura de um espaço para marchar ao seu lado em vez de correr o risco de ser fragorosamente derrotado em plena direita.
Enquanto gasta um esforço que não imaginou precisar em São Paulo, sobretudo pois Tarcísio de Freitas garantiria que se empurrasse Nunes ladeira acima, Bolsonaro vê cenários piores do que o esperado em outras partes do Brasil. No Rio de Janeiro, onde fez carreira política, o ex-presidente sabia que a tarefa de derrotar Eduardo Paes seria complexa. Imaginava, porém, que poderia levar a eleição para o segundo turno. Hoje, parece pouco provável. Na Quaest, o prefeito passou de 49% para 60%, enquanto Alexandre Ramagem (PL) minguou de 13% para 9%. Uma surra em casa que, mesmo minimizada quando o horário eleitoral começar, será difícil de ser revertida.
Em Minas Gerais, havia a crença de que Bruno Engler (PL) largaria como favorito. Hoje, vê Mauro Tramonte (Republicanos), apoiado pelo governador Romeu Zema (Novo) e pelo ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), dois antigos rivais, como quem largou à frente com folga.
Onde ex-ministros de Bolsonaro disputam, também há goleadas contra eles. Em Recife, João Campos (PSB) soma 80% contra apenas 6% de Gilson Machado. Em João Pessoa, Marcelo Queiroga é apenas o quarto colocado com 7%, enquanto Cícero Lucena (PP) tem 53%. A ousadia de lançar candidaturas próprias não parece fortalecer, mas sepultar novas lideranças.
Naturalmente, não há só derrotas. Bolsonaro está no provável lado vencedor em algumas capitais, mas sempre com nomes do centrão que lideram e são favoritos muito mais por conta de alinhamentos locais que nada têm a ver com o presidente. Bruno Reis na Bahia, ou Eduardo Pimentel em Curitiba, por exemplo. (Ricardo Corrêa/AE)