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Eleição na Rússia: vitória de Vladimir Putin neste domingo pode levar a mais seis anos de guerra e tensões com o Ocidente

A declaração de Putin foi considerada "incrivelmente preocupante" pelos Estados Unidos. (Foto: EBC)

A eleição presidencial que termina neste domingo (17) na Rússia dará ao presidente Vladimir Putin mais um mandato, até 2030. O peso do mandato – de seis anos – e a eliminação de vozes da oposição representam um poder quase irrestrito, em um cenário econômico favorecido pela resistência da economia do país às sanções ocidentais  após a invasão da Ucrânia.

Há quem avalie, ainda, que a força do chede no Kremlin (no poder há 25 anos) também vem dos avanços incrementais, porém consistentes, no campo de batalha contra o país vizinho, este com apoio cada vez menor dos Estados Unidos e de outros países.

“A eleição presidencial da Rússia não é tão importante quanto o que virá depois. Putin sempre adiou medidas impopulares para depois das eleições”, analisa a professora Bryn Rosenfeld, da Universidade de Cornell (EUA) e especialista em política global na era pós-derrocada dos regimes socialistas europeus, entre o final dos anos 1980 e o início da década seguinte.

Ela prossegue: “Provavelmente, a medida mais impopular que ele poderia tomar seria ordenar uma segunda mobilização militar para lutar na Ucrânia. A primeira, em setembro de 2022, provocou protestos e uma onda de russos fugiu do país para evitar ser convocada. Por menos simpática que uma segunda mobilização possa parecer, também poderia apaziguar os parentes dos soldados convocados há 18 meses”.

Algumas pessoas na Rússia acreditam que isso pode acontecer. “Líderes russos estão falando em consolidar toda a sociedade em torno de suas necessidades de defesa”, ressalta Brian Michael Jenkins, consultor do centro de estudos Rand Corporation. Ainda segundo ele:

“O significado exato dessa frase não está totalmente claro, mas sugere que a liderança da Rússia entende que a guerra descrita por Putin continuará por muito tempo e, portanto, os recursos devem ser mobilizados. Em outras palavras, a sociedade russa deve ser organizada para uma guerra perpétua”.

Já Tatiana Stanovaia, do Carnegie Russia Eurasia Center, diz que Putin não precisa de uma mobilização, em parte porque muitos russos de regiões mais pobres se alistaram para lutar e obter um salário mais alto: “Além disso, a aparente confiança de Putin de que a guerra está virando a favor da Rússia, provavelmente, fará com que ele continue a insistir que a única maneira de acabar com o conflito é a Ucrânia sentar-se à mesa de negociações. O que significa capitulação”.

Postura agressiva

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler da Polônia, Radek Sikorski, disseram recentemente que o envio de tropas à Ucrânia é uma possibilidade. Com essas declarações em mente, Putin pode estar motivado a testar a determinação da Otan.

Alexandra Vacroux, diretora do Davis Center, da Universidade Harvard, diz que, dentro de alguns anos, a Rússia fará uma tentativa de avaliar o compromisso da Otan com o Artigo 5, a garantia de defesa mútua, segundo a qual um ataque a um membro é considerado um ataque a todos.

“Não acho que Putin pense que precisa ser mais forte do que todos os outros países. Ele só precisa que eles sejam mais fracos e mais fraturados. Portanto, a questão para ele é como posso tornar todos os outros mais fracos?”, diz Vacroux. “Portanto, para fazer isso, é preciso encontrar uma situação em que se possa testar o Artigo 5. Se a resposta for branda ou incerta, você mostrou que a Otan é apenas um tigre de papel.”

A agressividade de Putin preocupa especialmente os países que foram satélites da União Soviética. Um deles é a Moldávia. Embora não seja um membro da Otan, o governo moldávio teme se tornar um alvo russo. Desde a invasão da Ucrânia, o país suspeita que será o próximo alvo do Kremlin.

O Congresso na região separatista da Transdnístria, na Moldávia – onde a Rússia tem 1.500 soldados – apelou a Moscou por “proteção” diplomática devido à suposta pressão crescente da Moldávia.

“Esse apelo deixa muito espaço para uma escalada”, disse Cristain Cantir, professor de relações internacionais da Moldávia na Universidade de Oakland. “Acho que é útil ver o Congresso e a resolução como um aviso à Moldávia de que a Rússia pode se envolver mais na Transdnístria se os moldávios não fizerem concessões.”

Restrições

Na frente interna, medidas mais repressivas também podem vir em um novo mandato de Putin, mesmo que oposição e mídia independente já estejam silenciadas. No ano passado, a Rússia proibiu o movimento LGBT+, declarando-o extremista e uma influência ocidental, que bate de frente com os valores tradicionais da Igreja Ortodoxa.

Os tribunais também proibiram a transição de gênero. Ben Noble, professor da University College London, disse acreditar que a comunidade LGBT+ pode enfrentar mais repressão em um novo mandato de Putin: “Na visão do Kremlin, eles são uma importação do Ocidente decadente”.

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