Ícone do site Jornal O Sul

Eleição presidencial no Uruguai se acirra no 2º turno

Embora prometa forjar uma "nova esquerda" no Uruguai, Orsi não planeja mudanças drásticas. (Foto: Reprodução/IG)

O Uruguai realiza neste domingo (24), o segundo turno das eleições presidenciais. As pesquisas apontam uma disputa difícil, complicada e parelha. Os candidatos estão praticamente empatados, com leve vantagem da Frente Ampla de Yamandú Orsi, apoiado por Pepe Mujica, e Álvaro Delgado, do partido Blanco de centro-direita, com respaldo do atual presidente Luís Lacalle Pou.

O vencedor terá o desafio de lidar com um Congresso bem dividido. Por outro lado, a economia dá sinais de recuperação depois de um ano difícil em 2023 por conta da seca, que interrompeu a recuperação pós- pandemia de covid-19.

Às vésperas da votação, as sondagens mostram um quadro de estabilidade e imprevisibilidade. No Instituto Cifra, Orsi tem 42% das intenções de voto, enquanto Delgado aparece com 40%. Os indecisos e nulos somam 18%. Deste total, 6% estão inclinados a votar no candidato governista e 5% no adversário da Frente Ampla – o que elevaria as preferências para 46% e 47%, respectivamente. Outros 3% devem votar em branco ou nulo. Os 4% restantes são os “indecisos puros”. “A conquista destes eleitores tende a ser determinante para o resultado”, diz Mariana Pomiés, socióloga e diretora do Cifra.

Diante da polarização, os dois presidenciáveis têm evitado propor mudanças bruscas de direção. “Somos um país que historicamente valoriza as transições mais lentas. Os candidatos radicais sempre perderam as eleições”, observa Pomiés, acrescentando que este aspecto e a falta de carisma dos postulantes também contribuiu, por outro lado, para uma campanha morna em termos de mobilizações de rua. “As diferenças entre os dois blocos são mais conceituais do que programáticas”, avalia Pomiés.

As diferenças sobre o rumo para o Mercosul são um bom exemplo. Delgado tende a seguir a linha do atual presidente e seu padrinho político, Lacalle Pou – que tentou sem sucesso acelerar parcerias comerciais com a China – e defender uma maior liberdade para os acordos firmados por parte dos sócios do bloco. O presidente da Argentina, Javier Milei, desponta como um aliado nesta articulação.

Já Orsi, embora tenha deixado as portas abertas para uma aproximação com os chineses, deve priorizar as negociações dentro do bloco, como com a União Europeia.

Ex-professor, Orsi governou o departamento de Canelones, o segundo maior do país, por dois mandatos. É considerado o herdeiro político do ex-presidente José Mujica (2010-2015). Aos 89 anos, o ex-mandatário segue sendo a figura política mais popular do Uruguai, com cerca de 60% de simpatia, segundo Pomiés. Porém, enfrenta um câncer que impediu um maior protagonismo na disputa.

Orsi, ainda assim, procurou explorar a relação com padrinho político ao propagar as semelhanças entre ambos, como o gosto pela austeridade e a vida rural. Fez questão de aparecer em fotografias durante a campanha em trajes informais, passeando pelo campo e tomando mate, a exemplo do que fazia Mujica. Suas bandeiras são o meio ambiente, o combate à pobreza infantil, a inclusão social e o apoio aos pequenos produtores. Tem como trunfo a redução da desigualdade nos 15 anos de governos da Frente Ampla, quando o índice de pobreza recuou de 40% para 8,8%. Hoje, está em 9,1%.

Já Delgado ganhou projeção na pandemia de covid, quando assumiu papel central na comunicação com a população como secretário da Presidência. Defensor da estratégia de “liberdade responsável”, coordenou um grupo de cientistas responsável por estudar o vírus, levantar dados e divulgar alertas à população. Na campanha, tem prometido um governo de “continuidade”, com foco na estabilidade social, redução de impostos, crescimento econômico e atração de investimentos estrangeiros.

O próximo presidente assumirá o cargo em março com o desafio de manter o diálogo aberto com a oposição, já que nenhum bloco obteve maioria absoluta no Legislativa e no Uruguai, ao contrário do Brasil, não há instrumentos como decretos e medidas provisórias. No Senado, a Frente Ampla conquistou 16 das 30 cadeiras. Na Câmara, os frentistas somam 48 deputados, contra 49 da coalizão governista que, além do Nacional, inclui os partidos Colorado, Cabildo Abierto e Independiente.

Sair da versão mobile