Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2018
Na reta final do período eleitoral, a campanha do PT conseguiu reduzir a diferença entre os candidatos Fernando Haddad e o adversário Jair Bolsonaro (PSL). Ainda assim, não foi o bastante para evitar a vitória do candidato do PSL.
Em discurso após a derrota, Haddad disse que o partido precisa “se reconectar com as bases, com os mais pobres, para retecer um plano.” Cientistas políticos e um marqueteiro levantaram possíveis erros da campanha que podem ter colaborado para a derrota.
Entre os principais problemas citados estão o fato de não ter sido criada uma frente única de esquerda, a demora para lançar Haddad e a aposta na candidatura do ex-presidente Lula, hoje preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro. Além disso, foram citados o papel das redes sociais e do WhatsApp, mudança de discurso do primeiro para o segundo turno e a autocrítica tímida e tardia que Haddad fez na reta final.
Frente com outros partidos fracassou
Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, senador eleito e coordenador da campanha de Haddad, defendia que o candidato da esquerda fosse Ciro Gomes (PDT), mas a proposta não deu certo. Wagner disse que sempre defendera um acordo com Ciro pois a campanha de Bolsonaro se resumia a uma postura contra o PT. “O que eles têm a dizer? É anti-PT. É anti-PT”.
Antes da prisão de Lula, informações de bastidores davam conta de que o próprio Haddad defendia uma frente de esquerda, mesmo sem candidato próprio do PT. No entanto, com a prisão, essa ideia se desfez, pois o foco do partido passou a ser a defesa pública do ex-presidente.
No segundo turno, o candidato do PT tentou compor uma frente com Ciro, Marina Silva (Rede) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas as conversas não avançaram. Fernando Henrique se manteve neutro, Marina declarou voto crítico na reta final e o PDT disse que daria apoio crítico a Haddad. Ciro se manifestou repetidas vezes contra Bolsonaro em redes sociais, mas sem mencionar Haddad.
Ao declarar “apoio crítico” ao PT, Marina disse que o partido “mantém o jogo do faz de conta do desespero eleitoral, segue firme no universo do marketing, sem que o candidato inspire-se na gravidade do momento para virar a própria mesa, fazer uma autocrítica corajosa e tentar ser o eixo de uma alternativa democrática verdadeira”.
Autocrítica foi tímida e veio tarde
Para o cientista político Claudio Gonçalves Couto, da Fundação Getulio Vargas, o partido deveria ter reconhecido que membros estiveram envolvidos com corrupção anos antes da eleição. “A campanha foi apenas o ponto culminante desse erro”, diz ele.
Pensador ligado à esquerda, mas forte crítico do PT, o filósofo Ruy Fausto acha que Haddad deu, no final da campanha, passos importantes em direção a um mea culpa, mas uma autocrítica mais incisiva poderia ter reforçado sua candidatura.
“Teria que admitir que no governo do PT houve, sim, corrupção, e se apresentar como herdeiro do lado bom, e não do lado ruim. Houve promiscuidade entre o governo e o poder econômico. É melhor que ele diga. Mas o partido não quer que ele diga, porque quer alimentar o mito do Lula”. “Somado, foi tudo muito tardio, e também insuficiente”, diz ele.
Paulo de Tarso Santos, que já foi responsável pelo marketing de campanhas do PT e de Marina Silva, acha que fazer essa autocrítica no programa de televisão poderia ter melhorado o desempenho. “(Poderia) falar do petrolão, que as pessoas diziam que seria suicídio político, mas eu não acho. Ao mesmo tempo em que a população votou no Bolsonaro, ela tem medo do Bolsonaro. Mas teria que ter uma mão política muito fina para fazer uma autocrítica sem cometer suicídio.”
A questão de como fazer a autocrítica sem cometer suicídio político limitou, para Santos, a margem de manobra de Haddad. “Ele trabalhou com muito pouco [espaço político] e foi bem dentro do que tinha, mas houve coisas que não ficaram bem respondidas.”
A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse em entrevista coletiva que, na avaliação dela, o PT subestimou o papel do WhatsApp na campanha. Sérgio Amadeu da Silveira, professor e pesquisador da Universidade Federal do ABC, concorda, e, para ele, não foi por falta de aviso. “Já se sabia que o WhatsApp seria a principal rede social da campanha porque cerca de 90% dos brasileiros com acesso à internet usam a rede”, diz ele.