Terça-feira, 05 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2022
Um em cada cinco candidatos nestas eleições é empresário ou advogado. Um levantamento feito pelo portal de notícias g1, com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra que esses dois grupos, que já representavam a maior proporção na disputa de 2018, aumentaram a participação este ano. No geral, esta será a eleição também com menos professores e estudantes e mais policiais militares e jornalistas.
Até a última quarta-feira (17), o TSE já havia registrado mais de 28 mil candidaturas. Pelos dados do TSE, o total de candidatos que se declararam empresários cresceu 20% este ano, enquanto os advogados, 12%. Juntos, essas duas ocupações representam 20% entre todas as aquelas declaradas pelos candidatos.
Isoladamente, uma das categorias profissionais com maior variação percentual entre as duas eleições foi a de policial militar (38%). Candidaturas de jornalistas também cresceram (30%), mas, no geral a participação desse grupo, bem como de PMs no conjunto de todas as ocupações dos candidatos, representa cerca de 3%.
Enquanto advogados, empresários, policiais e jornalistas aumentaram o número de candidaturas nesta eleição, a ocupação donas de casa (-23%), professores do ensino fundamental (-24%) e ensino médio (-38%), além dos servidores federais (-27%) apresentam redução. Estudantes e bolsistas também apresentam menos candidaturas: – 38%.
Pelos dados do TSE, o total de empresários candidatos em 2018 foi de 3.017. Este ano, 3.620 apresentam pedido de registro de candidatura. Os advogados foram 1.828 quatro anos atrás e agora serão 2.049.
Para o professor e cientista político da Universidade Estadual do Norte Fluminense do Rio de Janeiro Victor Peixoto, parte do crescimento no número de empresários pode ser resultado de uma mudança de nomenclatura. Peixoto analisou os dados históricos e verificou que a categoria “empresário” entre os candidatos vem apresentando aumento constante desde 2006, e agora com novo recorde de participação.
“Claramente o aumento da proporção de empresários vem de uma mudança de nomenclatura. Houve uma substituição. Antigamente o que chamávamos de comerciantes agora denominamos empresários. Provavelmente, esse crescimento ocorreu por conta da criação do MEI (microempreendedores individuais). Com o MEI, pequenos comerciantes foram transformados em pequenos empresários. Os policiais militares, com esse novo aumento volta ao patamar de 2006. Muito provavelmente por conta de uma nova onda, não só da segurança pública, mas de comunicação. Muitos têm utilizado as redes sociais para se comunicarem diretamente com a sociedade.”
Padrão
Entre os partidos, a maior participação de empresários e advogados ocorre no Novo. Quase um terço de todas as candidaturas do partido são empresários ou advogados. Na sequência vem o PSDB, com 25% de candidatos dessas duas categorias. O partido do presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece empatado com o PP na sexta colocação com maior participação de empresários e advogados (23%). Já o PT fica na 26ª posição, com 12% de advogados e empresários.
Para o professor e cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adriano Codato, chama atenção o grande número de empresários interessados em participar da política institucional, padrão que se diferencia de outros países europeus. Segundo ele, apesar do grande número de legendas no Brasil e da dificuldade de os eleitores distinguirem as bandeiras, os dados demonstram que parece haver um padrão na distribuição dos empresários pelas legendas. Sobre o crescimento das candidaturas de jornalistas, Codato afirma que é preciso mais estudos para identificar quem exatamente se identifica como jornalista.
“Embora tenhamos muitos partidos e a fragmentação seja muito alta e o comportamento dos partidos seja um tanto imprevisível os dados indicam alguma lógica social e no recrutamento das candidaturas. Quanto mais à direita o partido está, mais empresário como candidato ele tem; quanto mais à esquerda, menos tem empresário. Sobre o aumento dos jornalistas, precisamos de mais estudos e dados mais detalhados para explicar esse aumento. Não é possível também hoje especular a razão da queda do total de candidaturas de estudantes e donas de casa. Pode ser resultado da estratégia dos partidos.”
Codato explica que o perfil social dos candidatos está associado a três fatores: regras eleitorais, estratégias partidárias e o tipo de financiamento das campanhas. Enquanto as regras podem limitar ou ampliar a participação de diferentes grupos, as estratégias dos partidos podem ser direcionadas para, por exemplo, a aposta em celebridades, políticos profissionais e com experiência. O professor da UFPR chama atenção para o fato de que cerca de 70% dos eleitos quase sempre são ocupantes e algum cargo eletivo ou de confiança no mundo político.
“É preciso considerar o tamanho dos partidos, isto é, partidos grandes, médios, pequenos e franco atiradores. Partidos grandes lançam políticos, partidos pequenos outsiders, partidos minúsculos sem quaisquer chances e dinheiro lançam mais mulheres, pretas, com profissões de baixo prestígio social, como foi o caso do PSTU, PCB, PCO em 2014.”