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Eleições 2024: clã Barbalho busca conter o bolsonarismo no Pará

Reconquistar Belém com Igor Normando (MDB) é estratégico para o clã Barbalho. O MDB não governa a cidade desde 1989. (Foto: Divulgação)

O grupo do governador Helder Barbalho (MDB) tem um desafio nesta eleição: conter o avanço do bolsonarismo no Estado, que colocou dois representantes no segundo turno de duas das três principais cidades paraenses –  Belém (capital) e Santarém. Com esse objetivo, o governador tem tido forte presença nas campanhas de seus aliados Igor Normando e José Maria Tapajós, respectivamente, ambos do MDB. E tem usado sua força política para atrair aliados de outros Estados, sobretudo na capital paraense. Por outro lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro também tem dado atenção especial aos seus candidatos no Estado.

Em Belém, Normando enfrenta o deputado federal Éder Mauro (PL), ex-delegado com histórico de declarações negacionistas quanto às mudanças climáticas que se orgulha de ter matado bandidos em sua época de policial civil. Em Santarém, o rival de Tapajós é JK do Povão (PL), filho de Ronaldo Campos, um ex-prefeito e deputado federal do antigo MDB que foi opositor da ditadura militar nos anos 1970 e votou a favor da emenda Dante de Oliveira em 1984. Segundo o candidato, que emergiu para a política após fazer fama como blogueiro, o pai era amigo de Juscelino Kubitschek e seu nome, Juscelino Kubitschek Campos de Sousa, é uma homenagem ao ex-presidente.

Reconquistar Belém é estratégico para o clã Barbalho. O MDB não governa a cidade desde 1989, embora tenha se aliado ao atual prefeito, Edmilson Rodrigues (Psol) no início de seu mandato. Mas, com a impopularidade do prefeito, impulsionada por uma crise do lixo, a família do governador viu a oportunidade de recuperar o controle da capital.

O partido conquistou 83 prefeituras das 144 do Pará até agora neste ano. Em 2020, foram 63. Apesar do crescimento, há uma preocupação com o avanço do bolsonarismo nos grandes centros urbanos.

Igor Normando é primo em segundo grau de Helder e de seu irmão, o ministro das cidades Jader Filho. Foi vereador, é deputado estadual e era secretário da Cidadania de Helder antes de virar candidato. No primeiro turno, conquistou 44,89% dos votos contra 31,48% de Éder Mauro.

Normando saiu das urnas em 6 de outubro como o favorito para levar a eleição. Mesmo assim, Helder reforçou sua campanha, trazendo para trabalhar com ele a equipe de mídias digitais que ajudou a reeleger o prefeito João Campos (PSB) em Recife, com 77,48% dos votos.

João Campos esteve em Belém na segunda-feira (21) para um evento de campanha, o “Batidão do Igor”. O prefeito do Recife participou de uma caminhada ao som dos famosos “paredões” de som, estruturas gigantesca com amplificadores que são uma marca das festas em Belém. O prefeito de Macapá, Doutor Furlan (MDB), reeleito com 79,12% dos votos, também participou, ao lado de Helder, Jader Filho e outros políticos locais.

A participação de João Campos, por outro lado, faz parte de uma estratégia do PSB para alçá-lo como uma liderança nacional. O partido, além disso, tem o vice na chapa de Normando, o deputado estadual Cássio Andrade, em uma coligação formada por dez partidos.

Bolsonaro, por sua vez, conta com as vitórias em Belém e Santarém para consolidar a força de seu grupo político nas grandes cidades do Estado. O PL já conquistou a prefeitura de Marabá, quinto município mais populoso do Pará, com a vitória em primeiro turno de Toni Cunha. Aurélio Goiano (Avante), também bolsonarista, venceu em Parauapebas, quarto principal colégio eleitoral paraense.

Bolsonaro esteve no lançamento da candidatura de Éder Mauro em Belém, em agosto. Mas tem tido postura mais discreta durante a campanha, já que seu aliado precisa conquistar um eleitor mais moderado da capital para bater Igor Normando.

Na capital, ele foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma margem apertada, de 50,28% contra 49,72%. Entretanto, segundo fontes locais, essa margem deve-se mais a um rechaço ao PT do que a uma adesão às pautas típicas do bolsonarismo, como armamentismo, defesa do garimpo e negacionismo ambiental. Com a cidade empolgada e em obras para a realização da COP30 no ano que vem, Éder Mauro vem abrandando seu discurso sobre esses temas, tentando passar uma imagem mais moderada.

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