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Eleições 2024: disputa em Fortaleza leva o PDT de Ciro Gomes ao esfacelamento

Desfecho na capital do Ceará é imprevisível, com petista e bolsonarista empatados. (Foto: Reprodução)

Considerada um termômetro da polarização nacional, a disputa em Fortaleza tem o desfecho mais imprevisível das eleições de 2024. Às vésperas da votação em segundo turno, o deputado André Fernandes (PL) e o deputado estadual Evandro Leitão (PT) seguiam empatados nas pesquisas de intenções de voto e, por ora, a única certeza é o esfacelamento do PDT de Ciro Gomes no Ceará.

Aos 57 anos, estreante em disputas majoritárias, Leitão apostou tudo na
popularidade de do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-governador Camilo Santana (PT), que deixou o comando do Estado com ampla aprovação em 2022. O petista, que é presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), cobrou exaustivamente a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha do seu adversário.

Bolsonaro não foi a Fortaleza no segundo turno. Enquanto isso, Fernandes fez o que pôde para driblar a polarização nacional, forçando a discussão para a esfera local, em que ele representaria a renovação contra grupos políticos tradicionais.

Aos 26 anos, projetado no cenário político a partir de vídeos nas redes sociais,
Fernandes conseguiu roubar o protagonismo do ex-deputado Capitão Wagner
(União) na direita. Wagner, que ficou em quarto no primeiro turno, declarou voto ao candidato do PL. Apesar de seu partido ser da base de apoio de Lula, Wagner construiu sua trajetória política no Ceará com base no antipetismo.

Para o segundo turno, Fernandes adotou tom conciliador, bem distante da
tradicional retórica bolsonarista que lhe levou a ser o deputado federal mais votado do Ceará em 2022. Logo após o resultado do primeiro turno, o candidato do PL recebeu apoio da ala do PDT mais ligada ao ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes, enquanto o prefeito José Sarto (PDT), que ficou em terceiro na disputa, anunciou neutralidade.

Ciro fez duros ataques ao PT em comentários nas redes sociais e minimizou o fato de seis dos oito vereadores de seu partido terem declarado voto no candidato bolsonarista. “O pior que pode acontecer em Fortaleza é a premiação do maior esquema de corrupção da história”, afirmou. “Não sou e nem serei puxadinho do PT”, disse ainda o ex-ministro.

Ciro não declarou diretamente voto em André Fernandes, mas o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), seu aliado próximo, embarcou na campanha do PL, declarando “voto útil” contra “um modelo recheado de corrupção”. Cláudio passou a compor o palanque de Fernandes ao lado de Capitão Wagner. Em entrevistas, o ex-prefeito tem dito que a eleição em Fortaleza faz parte de um projeto de hegemonia nacional do PT.

Descontente com a postura de Ciro e Roberto Cláudio, o ministro Carlos Lupi,
fundador do PDT, publicou vídeo em apoio a Evandro Leitão e classificou André Fernandes como representante de uma “direita raivosa e carcomida” e chamou o candidato do PL de “filhote de ditadura”. No mesmo dia, o presidente do partido, deputado André Figueiredo, que tinha declarado neutralidade, também passou a apoiar o candidato do PT.

Ao longo da campanha, Fernandes concentrou os seus ataques no que é o ponto fraco do PT no Ceará: o desempenho na área de segurança pública. Sob domínio do partido na ultima década, o Estado experimentou o crescimento da ação das facções criminosas nacionais e locais nas periferias das cidades.
Independentemente do resultado, Fernandes sairá maior da disputa do que entrou.

Se ganhar, ele levará o PL a comandar a capital mais populosa do Nordeste, um tradicional reduto eleitoral do PT. Se perder, passa a liderar a oposição no Estado, podendo deixar o PDT de Ciro sem esse espaço.

Com o acirramento do pleito nos últimos dias, os candidatos passaram a se acusar de disparo em massa de conteúdo “deep fake” (produzido com inteligência artificial) por WhatsApp. Na política real, sem visibilidade de resultado nas pesquisas, várias lideranças políticas trocaram de lado do dia para a noite. O caso mais emblemático foi o da vereadora Ana Acarapé (Avante), que postou foto ao lado de André Fernandes e, em menos de 24 horas, publicou outra ao lado de Evandro Leitão.

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