Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2024
Em reação ao resultado das eleições, em que o PT saiu derrotado das urnas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou agendas nos últimos dias com setores que se mantêm afastados do governo desde a sua posse, como evangélicos e banqueiros, e prepara-se para retomar compromissos com setores do agronegócio. Ao mesmo tempo, atualizou o discurso sobre as relações de trabalho em uma agenda sobre empreendedorismo, onde falou a língua de parcela expressiva dos brasileiros, principalmente dos jovens, que preferem ser donos de um negócio a conquistar a carteira de trabalho.
Na sexta-feira (18), em evento no Allianz Parque, com empresários, representantes da indústria e do setor financeiro, Lula afirmou que o governo precisa aprender que “mudou o mundo do trabalho no Brasil”. “Tem uma parte da sociedade que não quer ter carteira profissional assinada, as pessoas querem trabalhar por conta própria, querem ser empreendedoras”, reconheceu.
Estrategicamente, tratava-se do lançamento do programa “Acredite no seu negócio”, de ampliação de políticas de crédito voltadas a micro e pequenos empreendedores. No mesmo discurso, Lula dirigiu-se ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ponderando que os números positivos que o auxiliar vem anunciando relativos ao Novo Caged (Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em uma conjuntura de desemprego recorde, não bastam mais. No acumulado do ano, já foram criadas 1,5 milhão de novas vagas formais.
O programa já estava em gestação em vários ministérios, envolvendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil), mas foi lançado na esteira do desempenho do empresário Pablo Marçal (PRTB) na eleição para a Prefeitura de São Paulo, que surpreendeu o próprio Lula, além de lideranças de partidos de centro, direita e esquerda. Marçal manteve o percentual de intenção de votos acima de 20% durante toda a campanha e por pouco não tirou a vaga no segundo turno do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou do deputado Guilherme Boulos (Psol), apoiado por Lula. A vantagem de Boulos, segundo colocado, sobre Marçal foi inferior a 1%.
O principal discurso de Marçal para os eleitores e milhões de seguidores de suas redes sociais é uma espécie de “teoria da prosperidade”, no sentido de que todos os brasileiros podem enriquecer por mérito próprio.
Em entrevista para a rádio Metrópole, da Bahia, na quinta-feira (17), Lula criticou essa retórica, referindo-se “àquele candidato de São Paulo”: “E fica aquela teoria da prosperidade, como se fosse um mantra religioso, como se todo mundo pudesse ficar rico, quando na verdade a gente quer melhorar a vida das pessoas”, alfinetou.
Em novo esforço de aproximação dos evangélicos, segmento que votou maciçamente no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, Lula promoveu um ato no Palácio do Planalto, no dia 15, com lideranças religiosas, para sancionar a lei de criação do “Dia da Música Gospel”.
O ponto alto do evento foi o discurso do deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que é pastor, era aliado de Bolsonaro, mas elogiou Lula em um longo discurso, que repercutiu amplamente a favor do governo nas redes sociais, e o indispôs com uma parcela da bancada evangélica. Otoni exaltou a “visão social” de Lula, citando programas como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), ponderou que a agenda com os evangélicos já estava encaminhada, e que o governo tem feito movimentos para se aproximar desse segmento. Mas reconheceu que a repercussão do ato superou expectativas devido ao discurso do emedebista. “O discurso do Otoni transcendeu, era pra ser mais uma partida do campeonato, mas com o discurso, virou goleada”.
Randolfe afirma que Lula tem sensibilidade para entender que a realidade política mudou e já modernizou o seu discurso. Na visão do líder governista, o governo não atua mais na “sociedade da gratidão”, que respondia em votos à melhora da economia, mas, sim, na “sociedade da identidade”.
Por isso, diz que é preciso trabalhar para criar uma nova identificação com os brasileiros. Parte dessa missão deve vir do PT, argumentou. Ele defende que o partido de Lula reveja muitas de suas bandeiras, inclusive, sobre as relações de trabalho. “Carteira de trabalho celetista não está atualizada para a linguagem da juventude”, alertou.