Sábado, 08 de março de 2025
Por Redação O Sul | 28 de outubro de 2024
O resultado final das eleições municipais deste ano relativiza a polarização nacional entre os campos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu antecessor, Jair Bolsonaro. Quem ocupou o espaço do centro no segundo turno, na grande maioria das 50 disputas, foi o vencedor. Os candidatos que não conseguiram sair do espectro ideológico de seus partidos, na maior parte dos casos, foram derrotados.
O PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab terminou o processo eleitoral com o maior número de municípios (887). Venceu no domingo 9 dos 10 segundos turnos que disputou, inclusive em Belo Horizonte e Curitiba, respectivamente, com Fuad Noman e Eduardo Pimentel.
O segundo em número de municípios é o MDB, que reelegeu Ricardo Nunes em São Paulo e Sebastião Melo em Porto Alegre e elegeu Igor Normando em Belém. No total a sigla ficou com 854 municípios. Na divisão por eleitorado governado, MDB e PSD praticamente empataram na liderança, o primeiro administrando 27,7 milhões de eleitores e o segundo, 27,6 milhões.
“A eleição mostrou uma direita com cara, uma esquerda com cara e um centro que está ficando com uma cara”, afirmou Kassab, classificando como líder da primeira categoria o ex-presidente Jair Bolsonaro e o da segunda, o presidente Lula.
Kassab coloca ao centro o seu próprio partido, o MDB e o União Brasil e diz que em relação a 2026 está tudo em aberto. “O problema do centro no Brasil é a falta de opções majoritárias”, diz. Segundo o ex-prefeito, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é uma liderança estadual, e não nacional.
O PL venceu em apenas 6 das 22 disputas em segundo turno de que participou. Das 9 capitais em que estava no páreo, levou duas: Cuiabá, com Abílio Brunini, e Aracaju, com Emília Corrêa. Mas colheu bons resultados nas cidades de interior de grande porte, sendo sua vitória mais importante em Guarulhos (SP), com Lucas Sanches. Soma 516 municípios que correspondem a 19 milhões de eleitores.
Onde o ex-presidente Jair Bolsonaro entrou diretamente no segundo turno contra governadores, perdeu. Foi o caso de Goiânia, em que esteve no próprio domingo (27) para tentar derrotar o governador Ronaldo Caiado (União Brasil). O bolsonarista Fred Rodrigues (PL), contudo, tomou uma virada e perdeu para Sandro Mabel (União Brasil).
Bolsonaro também teve insucessos em algumas capitais onde o governador não teve papel relevante no segundo turno. Em Manaus, o presidente e sua família participaram ativamente da campanha do Capitão Alberto Neto (PL). Quem ganhou, contudo, foi o prefeito David Almeida (Avante). Em Belo Horizonte, o ex-presidente e seu grupo político entraram de cabeça na candidatura de Bruno Engler, mas prevaleceu Fuad Noman, depois de uma campanha extremamente agressiva.
O ex-presidente teve uma participação quase simbólica na eleição de Ricardo Nunes em São Paulo e na de Eduardo Pimentel em Curitiba. Flertou no primeiro turno com Pablo Marçal na eleição paulistana e no segundo turno com a jornalista Cristina Graeml, do PMB, em Curitiba. As vitórias de Nunes e Pimentel são produto direto do esforço dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Júnior (PSD-PR).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve participação discreta nas eleições municipais. Na única vitória do PT nas capitais, em Fortaleza com Evandro Leitão, o elemento decisivo foi a capacidade do grupo político liderado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em cooptar partidos e eleitores de fora da esquerda.
O PT sai melhor do que em 2020, o fundo do poço do partido, mas muito aquém do que já foi durante o primeiro governo de Lula e na administração de Dilma Rousseff. Elegeu 252 prefeitos, somando um eleitorado governado de 7,6 milhões de eleitores, o equivalente a 4,9% do total nacional.
Fora do PT, o PSB conseguiu se expandir em relação ao resultado de 2020, embora não tenha ganhado as duas disputas de segundo turno de que participou.
O Psol termina o processo eleitoral com 17 vereadores a menos do que elegeu há quatro anos e sem nenhum prefeito. A votação de Guilherme Boulos em São Paulo no segundo turno, de 40,65%, foi apenas 0,03 ponto percentual superior à obtida por ele no segundo turno de 2020, contra Bruno Covas (PSDB), o que significa extrema dificuldade de ampliar o eleitorado.
O Novo conseguiu manter no primeiro turno a prefeitura de Joinville (SC) e no segundo turno ganhou em Taubaté (SP), mas sua única liderança nacional, o governador mineiro Romeu Zema, não se saiu bem na eleição. As vitórias de Fuad Noman em Belo Horizonte e de Elisa Araújo em Uberaba fortalecem o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que se articulam para disputar a eleição estadual em 2026 possivelmente em parceria com o PT.