Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de outubro de 2024
A vice-presidente Kamala Harris indicou em uma entrevista que o Partido Democrata já se prepara para um cenário em que o ex-presidente Donald Trump se autoproclame vencedor antes do tempo nas eleições presidenciais de novembro nos EUA. Segundo ela, a sigla “tem os recursos e a experiência” para lidar com uma tentativa de subversão do resultado, ecoando o fantasma da eleição de 2020, quando as alegações de fraude do republicano resultaram na invasão ao Capitólio. Desta vez, o empate técnico nos sete estados-chave da disputa desafia ainda mais a legitimidade do processo: hoje, a maior distância entre Kamala e Trump é de 2,5 pontos percentuais, segundo o agregador de pesquisas Real Clear Polling.
Mas se em 2020 as suspeitas levantadas por Trump resultaram em violência, o movimento deste ano tem se centrado em estratégias mais sutis — com apoio de republicanos e financiamento de bilionários — que dão sentido ao temor que circula nas fileiras democratas.
Diretor do Centro de Sustentabilidade Democrática na Universidade do Sul da Flórida, Joshua Scacco afirmou ser bem provável que o republicano conteste de novo o resultado das urnas em caso de derrota.
“Eu não quero especular sobre o que pode acontecer, mas todos sabemos que Trump não declarou publicamente que vai aceitar o resultado”, disse Scacco, lembrando o momento em que o ex-presidente respondeu, no debate com Kamala, que apenas reconheceria o pleito se ele fosse “justo, legal e bom”, sem detalhar o que isso significa.
“Se o comportamento dele no passado for uma pista, ele certamente vai contestar a eleição e terá uma base de apoio para isso”, opina.
Preparativos
Como antídoto, os democratas têm recrutado voluntários para observarem as seções eleitores. A expectativa da campanha é reunir milhares de apoiadores para acompanharem a contagem e atuarem em linhas diretas que oferecem assistência jurídica e proteção a eleitores. Segundo Scacco, Kamala tem apostado tanto na retórica pró-democracia quanto em fortalecer os comitês democratas locais, com equipes robustas, sobretudo na parte jurídica.
“O que a campanha de Kamala deve fazer é trabalhar em nível local, reafirmando a integridade do processo que já está em andamento”, afirma Scacco, em referência aos estados que já iniciaram a votação antecipada. — Ela tem se posicionado como alguém que respeita o processo democrático.
Segundo um levantamento do Washington Post, ao menos 236 candidatos republicanos — quase metade do total de postulantes do partido ao Congresso ou aos governos estaduais — compartilharam teorias conspiratórias que punham em xeque a integridade do sistema eleitoral. Dois em cada três deles relacionaram o voto de pessoas sem cidadania americana à “fraude eleitoral” — acusação frequentemente mencionada por Trump em discursos, embora evidências apontem que a ocorrência dessa modalidade ilegal seja rara.
Outras alegações de fraude giram em torno do suposto “golpe” dado por Kamala para assumir a cabeça de chapa democrata após a desistência do presidente Joe Biden, pressionado depois do seu péssimo desempenho no debate contra Trump. Na época, ela teve o apoio de todos os delegados conquistados por ele nas primárias, evitando nova prévia.
Falta de confiança
Uma pesquisa do instituto Gallup no mês passado revelou que 19% dos americanos não confiavam nos resultados das eleições — em 2004, eram só 6%. Embora a grande maioria da população confie no processo eleitoral, o levantamento apontou uma discrepância em relação à orientação política: enquanto 84% dos democratas entrevistados disseram crer no sistema do país, apenas 28% dos republicanos afirmaram o mesmo. A sondagem aponta uma queda significativa da confiança dos republicanos com o tempo: em 2020, 44% acreditavam no processo. Quatro anos antes, quando Trump venceu a democrata Hillary Clinton, a maioria (55%) afirmou que a eleição foi legítima.