Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de outubro de 2018
Eleita com dois milhões de votos deputada estadual por São Paulo, com a maior votação da história entre candidatos para deputado estadual no Brasil, Janaina Paschoal (PSL) não vê ameaça à candidatura de Jair Bolsonaro na ação movida pelo PT após denúncias de uso ilegal do Whatsapp para propaganda eleitoral. Apesar de críticos verem o candidato como uma ameaça à democracia, a jurista e professora da USP rechaça que Bolsonaro seja autoritário e disse, em entrevista à BBC News Brasil, que ele governará para a pluralidade.
1- Em 2014, o PSDB questionou no TSE a eleição de Dilma Rousseff. Agora, o PT entrou com uma ação contra a candidatura de Bolsonaro. Como a senhora vê isso?
No caso das ações que foram propostas contra o PT havia documentação. Eram ações com fundamento, não dá para comparar. Não adianta pegar uma matéria que não tem nada para querer desestabilizar uma candidatura. Eles anunciaram na matéria que havia contratos de milhões. Cadê os contratos?
2- A partir da reportagem da Folha, o Ministério Público deveria abrir uma investigação para apurar?
Eu acho que tem que apurar o que eles [o PT] estão alegando. Isso é denúncia caluniosa. Você não pode propor uma ação sem nenhum elemento. A ação é uma piada. Como é que cria um pânico na população sem fundamento nenhum? Isso, sim, é crime.
3- Alguns analistas consideram que um governo Bolsonaro seria uma ameaça à democracia. A senhora vê algum risco à democracia?
O contato que eu tive com ele foi um contato muito positivo. Ele não se mostrou uma pessoa autoritária, ele me ouviu, ele recuou em algumas posições. Por exemplo, da ideia de colocar dez ministros no Supremo. Quando eu disse a ele que isso era inconstitucional, imediatamente ele retirou essa proposta.
4- A senhora acha que ele fez essa proposta por falta de conhecimento?
Acho que sim. Na medida em que veio uma professora de Direito e diz para ele que não é correto, ele automaticamente acatou. Isso não é comportamento de uma pessoa autoritária, vou além, de uma pessoa machista. Ele está bastante consciente de que está sendo eleito por uma pluralidade. Essa pluralidade vai cobrá-lo. Risco para a democracia eu vejo se o PT voltar, por tudo que eles já demonstraram que são capazes de fazer, inclusive essa palhaçada [a ação no TSE].
5- A imprensa é fundamental em uma democracia e faz parte do seu trabalho também matérias negativas. Mas qualquer matéria negativa a Bolsonaro, ele desqualifica como fake news. Isso não é um problema?
Eu não vi nenhuma pretensão dele de regulamentar [a mídia], muito pelo contrário, ele é defensor da liberdade de manifestação. Se eu fosse profissional de imprensa, estava com medo do PT, porque quem quer regulamentar a imprensa são eles.
6- Bolsonaro também falou que vai “botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil”. Como a senhora vê essa declaração?
O ativismo, em regra, é cruel. A pessoa que se declara ativista, embora nem todos tenham dimensão disso, fica cega com a causa dela. O que eu acho que ele quis dizer foi: “pelo amor de Deus, chega desse exagero para um lado ou para o outro”. Vamos ter um pouco de ponderação. Vamos supor, eu e você somos feministas. O que quer dizer isso? A gente quer que mulheres sejam respeitadas por sua dedicação, que tenham seu trabalho reconhecido. Mas a gente não quer que os homens sejam diminuídos, sejam desrespeitados.
7- Mas o discurso do Bolsonaro não é, muitas vezes, de ódio?
Eu acho que ele perde a paciência quando ele começa a ser provocado. Eu não senti ódio no discurso dele. Agora, se você lembrar do meu discurso na convenção [que lançou a candidatura de Bolsonaro], você vai reconhecer que eu tenho pedido ponderação desde sempre. Então, eu não sou o que se possa chamar de uma bolsonarista. Eu não estou aqui fechando com Bolsonaro. Eu sou uma pessoa crítica por natureza. O que eu estou querendo dizer é que o discurso de ódio, muito embora as pessoas insistam em dizer que vem da parte dele, é muito mais oriundo do petismo.
8- Ele declarou “vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre” em um comício.
Eu não gosto desse tipo de frase. Acho que ele deveria moderar esse tipo de frase, já falei isso a ele e às pessoas que fazem parte da campanha. Eu não faço parte da campanha, eu passei a apoiá-lo porque não quero o PT de volta e eu vi nele a força suficiente para fazer frente a isso, força que não vi nos outros.
9- Caso ele vença a eleição, nomeará alguns ministros militares. Como a senhora vê a formação de governo com militares?
Eu não tenho nenhum preconceito com militares ou civis. Devem passar pelos mesmos crivos, da idoneidade, da competência. Se ele conseguir efetivamente montar um ministério enxuto e com perfil técnico, eu, como brasileira, vou ficar feliz.