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Elon Musk

Elon Musk é o nome do cara. O que dizer de alguém que compra uma plataforma de internet por US 44 bilhões de dólares e não sabe bem o que fazer com ela? Nem o maior fã do bilionário – se for capaz de um raciocínio elementar – acha que essas manhas e artimanhas sejam de uma pessoa sensata.

Dizem que é um gênio das finanças. E no entanto faz uma compra de U$ 44 bi que hoje em dia vale menos do que a metade. Dizem que é um gênio do marketing. E no entanto mudou o nome do Twitter para “X”, mas todos se referem à plataforma como “X”, ex-Twitter.

Talvez ele queira provar que é tão forte que pode derrubar um ministro da corte superior. Talvez um aviso aos navegantes: não se metam, comigo! Eu sou o tal e boto para quebrar.

Mas ele, que fabrica carros elétricos, manda foguetes ao ar, têm satélites de comunicação ao redor da terra, e sabe-se lá o que mais, avaliou mal: o Brasil não é uma republiqueta de bananas na qual ele pode botar medo.

O Brasil não é a China, onde Musk fabrica os carros Tesla, de sua propriedade. E onde, mesmo assim, o seu “X”, ex-Twitter não entra – os chineses não querem e não deixam. Se ele reclama de censura, de ofensa à liberdade de expressão na China? Ah, não, lá ele acata respeitosamente a proibição. Lá não é censura, lá onde prevaleça a lei da mordaça, onde só se publica o que o governo quer, a liberdade de expressão não está a perigo.

Musk não notou que o Brasil tem certa personalidade, e nestas plagas ninguém vai impor facilmente regras na marra, no grito. Aqui, não será uma voz isolada, ainda que potente, que irá desabonar a Corte Suprema ou desestabilizar um ministro rigoroso e destemido como Alexandre de Moraes. Ele mexeu com o cara errado

Pretensioso, acusa o ministro Moraes de violar “deslavadamente” a Constituição brasileira. Ou seja, não satisfeito com suas competências, que não são poucas, arroga-se à condição de letrado jurista, conhecedor das leis, de saber jurídico da altura de um ministro do Supremo.

Claro, para tais boçalidades, para tal falta de noção, ele conta um exército ruidoso de seguidores deslumbrados, no mundo da alta política e mais ainda da baixa – Bolsonaro e os bolsonaristas. Essa gente precisa ter sempre à mão um ídolo para bajular. Com Trump na entressafra, por que não abraçar Musk, o “enfant terrible”, o ícone da liberdade absoluta de expressão, das multidões ensandecidas das redes sociais?

Ele lança seus mísseis e drones e do lado de cá da fronteira, vozes exaltadas, defensores da liberdade de expressão sem limites, patriotas de fancaria, protofascistas, ignorantes cheios de pose lhe dão razão e cobertura.

Os que se denominam patriotas preferem dobrar a espinha e prestar vassalagem ao bezerro de ouro contemporâneo do que respeitar as instituições da República.

Não, senhores, Musk não está travando o bom combate. A liberdade de expressão é feita civilidade e autocontenção, de respeito à diversidade, de rigor na apuração da notícia, de esforço genuíno para expressar o que mais se aproxima da verdade. Não é o território de aloprados e maldizentes, nem dos que fazem da política um jogo de vale-tudo.

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