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Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2022
O Brasil tem 207.750.291 habitantes, conforme estimativa com base nas prévias do Censo, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Após sucessivos atrasos, os primeiros números definitivos do Censo devem sair só em março. O total fica abaixo dos 213 milhões antes projetados para a população atual, o que se explica, dentre outros fatores, pela pandemia e pela distância do Censo anterior, de 2010. Para especialistas, a desaceleração no crescimento do País pode significar a antecipação do fim do bônus demográfico – quando há uma grande faixa da população em idade para trabalhar.
Em linhas gerais, a transição demográfica tem duas fases: o bônus ajuda a economia. Ja o ônus impõe desafios, pois é caracterizado por uma maior quantidade de idosos – o que tira impulso da economia.
Sem esse impulso, para acelerar o crescimento econômico e se desenvolver, o País tem de, necessariamente, fazer crescer a produtividade – desafio no qual tem falhado até aqui. “Sem dúvida, a redução do ritmo de crescimento antecipa um pouco o fim do bônus”, diz José Eustáquio Diniz Alves, professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, ligada ao IBGE. Para ele, ainda “é possível aproveitar o 2º bônus (que tem a ver com a produtividade) e o 3º bônus (o da longevidade)”.
A transformação também exige políticas públicas voltadas para os mais velhos, como asilos, preparação da rede de saúde, despesas previdenciárias etc. Já a queda na quantidade de crianças e adolescentes pode alterar o foco de políticas educacionais, como aproveitar o menor número de alunos para oferecer ensino integral.
Sinais
Por enquanto, a sinalização sobre eventual fim do bônus está dada apenas pelo ritmo do crescimento populacional, já que as informações prévias do Censo 2022 não incluem a distribuição da população pelas faixas etárias. De acordo com o diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, a diferença entre o projetado (213 milhões) e o estimado agora é “muito comum” e já ocorreu outras vezes. “No Censo de 1980, tínhamos um ‘Maranhão’ a menos”, afirma ele.
Segundo o diretor, eventuais problemas nos censos anteriores, as mortes causadas pela pandemia e a defasagem em relação ao Censo 2010 agravam a discrepância.
A mais recente projeção populacional do IBGE é de 2018. Por ela, o contingente em idade de trabalhar no Brasil crescerá até 2037 e cairá depois disso. Demógrafos costumam preferir esse critério para definir o fim do “bônus demográfico”. Alguns economistas, por sua vez, preferem olhar para as taxas de crescimento da população em idade ativa em comparação com as da população total. Por essa definição, o bônus já teria terminado em 2018.
Estimativas da população por cidade são entregues pelo IBGE ao Tribunal de Contas da União todo ano. Isso é usado para a repartição do Fundo Nacional de Participação dos Municípios, que repassa recursos federais a prefeituras, e para definir os totais de vereadores e de deputados federais e estaduais em todo o País.
Atrasos
Desde o início do processo, o IBGE vinha informando que haveria tempo hábil de o TCU usar dados do Censo 2022 no fim do ano. Só que os atrasos se estenderam também para a coleta das informações (a visita a cada domicílio). O IBGE cita como um dos principais motivos a falta de recenseadores. Para os diretores do órgão, o mercado de trabalho aquecido reduz o interesse de trabalhadores em potencial no emprego temporário – o Censo exige contratar em torno de 200 mil recenseadores.
Têm sido registradas queixas de recenseadores sobre remunerações baixas e demora no pagamento. A dificuldade de recrutar e manter recenseadores fez o IBGE a prorrogar o trabalho, previsto inicialmente para ir até 31 de outubro. O IBGE já treinou quase 200 mil recenseadores, mas nunca alcançou o patamar necessário para cumprir o prazo previsto. Hoje há cerca de 50 mil recenseadores em atividade. Uma solução foi deslocar trabalhadores de áreas recenseadas para outras que ainda precisavam de trabalho de campo.