Um estudo ambiental mediu as perdas de vegetação nativa no Brasil em um período de quase 35 anos. A área equivale a 10% do território nacional. A precisão das imagens de satélite revelou o tamanho da destruição em 34 anos. Em nenhum outro lugar do mundo houve tanta perda de vegetação nativa nesse período quanto no Brasil. O estudo divulgado revela o avanço do desmatamento entre 1985 e 2019.
O país perdeu de áreas verdes o equivalente a três vezes e meia o estado de São Paulo. Mais de 87 milhões de hectares, distribuídos por todos os biomas, de norte a sul. Em números absolutos, a destruição foi maior na Amazônia com quase metade de toda vegetação nativa que desapareceu no país – algo equivalente aos territórios da Alemanha e Portugal somados.
Proporcionalmente foi o Cerrado que mais perdeu áreas verdes: mais de 21%. Quase o mesmo percentual de perdas do Pampa Gaúcho. No Pantanal, onde o estudo não incluiu a destruição dos incêndios de 2020, a destruição chega a 12%. Na Caatinga, foi 11%. A Mata Atlântica não resistiu à expansão das cidades. A mancha urbana cresceu duas vezes e meia sobre a vegetação nativa.
“O principal beneficiário, ou seja, o principal usuário dessas áreas que foram desmatadas, é a agropecuária, especialmente a pecuária. Ela cresceu muito entre o final dos anos 1980 e os dias atuais”, afirma Tasso Azevedo, coordenador geral do Mapbiomas.
Os pesquisadores chamam atenção para as consequências da derrubada das matas. Muda o clima, o ritmo e a frequência das chuvas. Secas ou temporais também prejudicam os que agora se beneficiam do desmatamento.
O estudo também mapeou o avanço da irrigação pelo país: 10% das culturas agrícolas brasileiras são irrigadas e a meta é dobrar esse número nos próximos dez anos. De acordo com os pesquisadores, se não houver planejamento adequado, poderá haver problemas na disputa pela água doce, que também é usada para produção de energia e abastecimento humano e animal.
A boa notícia é que as pastagens degradadas estão diminuindo de tamanho. Entre 2010 e 2018, caiu de 72% para 60%. Ainda é alto, mas já é uma esperança.
“É um absurdo a gente ter 60% da área de pecuária com degradação, mas houve uma melhoria importante. O Brasil não precisa mais desmatar. Se a gente utilizar a tecnologia que 25% mais eficiente do setor agropecuário utiliza ela em todo setor agropecuário, a gente é capaz de dobrar a produção e diminuir a área ocupada por pecuária. De forma que a gente não precise mais avançar por áreas naturais”, explica Tasso Azevedo.
Lançado em 2019, o “MapBiomas Alerta” já havia indicado cenário preocupante no avanço do desmate em todo o Brasil. Este ano, no Pantanal, um dos destaques – conforme o mapa desenvolvido pela Ecoa – é a região norte, próxima aos municípios de Cáceres, Poconé e Barão do Melgaço, no Mato Grosso.
No mapa, também é possível visualizar pontos concentrados em vermelho na região nordeste de Corumbá. “Se destacam, ainda, os municípios Rio Verde de Mato Grosso, Aquidauana e Porto Murtinho”, cita Thiago.