Domingo, 16 de março de 2025
Por Redação O Sul | 15 de março de 2025
O índice médio de juros praticado pelos bancos nas operações de crédito subiu pelo quarto mês seguido e atingiu 29,8% ao ano em janeiro, maior patamar desde agosto de 2023. Isso porque a alta da taxa básica Selic desde setembro começa a aparecer nas cobranças das instituições financeiras, que devem engatar uma longa trajetória de elevação. E o volume de operações tende a se desacelerar.
Dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostram elevação dos juros cobrados nos segmentos de pessoa jurídica, pessoa física, crédito livre e crédito direcionado. O aumento na taxa foi de 1,2 ponto percentual em relação a dezembro.
A alta no indicador geral foi impulsionada pelas operações com recursos livres, que avançaram de 40,7% em dezembro para 42,3% em janeiro. Nesse universo, o maior salto foi no crédito pessoas jurídicas, em que a taxa média subiu de 21,7% para 24,2%. Na carteira de pessoa física, houve elevação de 53,1% para 53,9%.
No crédito direcionado, a taxa média geral subiu 1 ponto, para 12% ao ano. “Considero esse aumento muito bem caracterizado, inclusive em sintonia com o ciclo de política monetária em curso”, avalia o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha. “As taxas do crédito livre respondem mais às ações de política monetária do que aquelas em que os recursos são direcionados.”
As estatísticas do Banco Central, junto a outros indicadores econômicos, “já mostram os primeiros sinais da política monetária batendo no crédito”, afirma o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, que prossegue:
“Temos um contexto de inflação elevada, incertezas locais e globais, início de redução na geração de emprego. A confiança de empresários e consumidores está mudando muito rapidamente. Então, teremos um primeiro semestre de ajuste no crédito”.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, também avalia que o encarecimento do crédito tem “majoritariamente raízes no reajuste da Selic”. Segundo ela, o aperto na política monetária e seus efeitos sobre os custos de captação têm impulsionado “de forma mais ampla” a alta nas taxas: “Esse movimento já é visto em um período não tão reduzido assim, portanto não se trata de algo sazonal, mas conjuntural”.
De acordo com o BC, houve estabilidade no saldo do crédito geral na comparação entre dezembro e janeiro, permanecendo no patamar de R$ 6,46 trilhões. Há, porém, um comportamento sazonal, já que o começo do ano é tipicamente mais fraco em algumas linhas, como desconto de duplicatas.
Apesar da estabilidade na variação mensal, o crescimento do estoque de crédito bancário no país foi de 11,7% em relação a janeiro do ano passado. Rocha destacou que esse número representou uma “ligeira aceleração” quando comparado ao ritmo de dezembro quando o crescimento em 12 meses foi de 11,5%.
Sinais de moderação
Portanto, o que se vê é que a desaceleração da economia e a alta dos juros ainda têm impacto moderado sobre o crédito. Em relatório, os analistas do Bradesco apontaram para sinais de moderação do setor: “As concessões de crédito livre para as famílias apresentaram uma queda marginal em termos reais. A variação foi negativa em 2,7%, devolvendo parte do aumento registrado no mês anterior (+3,9%). Os novos empréstimos para aquisição de veículos foram o destaque negativo de janeiro”.
Para o banco Goldman Sachs, as condições de crédito enfrentarão ventos contrários nos próximos meses devido às condições monetárias mais apertadas e à moderação do crescimento e da dinâmica do mercado de trabalho. Relatório produzido pela instituição financeira destaca: “Por outro lado, o ativismo de empréstimos pelos bancos públicos e a nova linha de empréstimo consignado privado devem dar suporte ao ciclo de crédito”.
As estatísticas do BC também mostraram uma elevação na inadimplência, de 2,9% para 3,2% entre dezembro e janeiro. O indicador geral não subia desde a passagem de setembro para outubro de 2023. Mas, segundo Rocha, não é possível dizer ainda se há uma tendência de elevação.
A inadimplência ficou em 3,2% entre junho e outubro do ano passado, passou para 3,1% em novembro e 2,9% em dezembro: “Não consigo descartar essa hipótese [de mudança da trajetória vista no último trimestre de 2024], mas é impossível de ser provada porque ainda não tem nada que mostre que tem uma nova trajetória. Minha interpretação é que a gente tem no momento uma inadimplência bastante estável”. (Valor Econômico)