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Política Em ano eleitoral, Wikipédia registra pico de edição em perfis de políticos que tentam “limpar” suas reputações, enquanto adversários querem comprometê-las

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Em alguns casos, políticos ameaçam judicialmente a plataforma para mudar o verbete. (Foto: Reprodução)

“Fundadora do movimento Nas Ruas, notoriamente conhecida por espalhar notícias falsas e deturpar fatos sobre a vacinação”. Assim a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) é apresentada na primeira linha de sua biografia na Wikipédia, a maior enciclopédia online colaborativa do mundo. Apesar de sucessivas tentativas da parlamentar de “repaginar” seu perfil, retirando a informação negativa, a atual versão tem sido mantida por editores da plataforma no Brasil.

Com a proximidade das eleições de 2022, administradores da Wikipédia vêm observando o início de uma corrida de potenciais candidatos para limpar suas reputações, amenizar críticas e ressaltar feitos em suas biografias. Tradicionalmente, os acessos aos perfis de políticos disparam no período que antecede o pleito.

Em 2018, por exemplo, o artigo sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) saltou de 170 mil acessos em junho para 2,6 milhões de acessos em outubro — mês da votação. No mesmo período, as edições de conteúdo em seu perfil saíram de 26, em junho, para o pico histórico de 204, em outubro.

Fontes confiáveis

Como a enciclopédia é aberta para qualquer um editar, exigindo apenas um registro do usuário, um batalhão de voluntários busca garantir que as páginas apresentem as trajetórias dessas figuras públicas com imparcialidade. De acordo com as regras da plataforma, as edições só podem ser feitas se forem amparadas por fontes confiáveis e verificáveis, como a imprensa profissional, revistas científicas, documentos públicos e artigos acadêmicos.

Mesmo assim, os perfis acabam sendo alvos de edições tendenciosas. Enquanto assessores buscam fazer maquiagem para ressaltar qualidades do político, opositores tentam emplacar notícias falsas nas biografias, alterações chamadas de “vandalismo” pelos membros da plataforma.

Após a eleição de Bolsonaro, seu artigo chegou a ficar no ar com frases com descrições como “Presidente eleito do pobre Brasil” e “sinal sombrio de retorno aos anos 1930 Hitler” — ambas removidas rapidamente pelos editores. Também há disputas de imagens que são inseridas nos perfis. Ao considerar que havia muitas fotos positivas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu artigo, um membro incluiu, em 2018, uma imagem de manifestação contra o ex-presidente ocorrida em 2016. “Acrescento uma contra o político e a favor da sua prisão”, justificou o editor. A imagem segue no artigo.

Na página do presidenciável Ciro Gomes (PDT) já foram removidas frases que afirmavam que ele tinha um posicionamento político “radical”. Na de Sergio Moro, pré-candidato ao Planalto pelo Podemos, um membro retirou a informação de que ele foi padrinho de casamento da deputada Carla Zambelli, sob a justificativa de que “não era informação relevante”. Já João Doria, pré-candidato do PSDB à Presidência, chegou a ser descrito como “atual governador de São Paulo que só aumenta a passagem”.

Geralmente, essas edições mal-intencionadas são rapidamente removidas. No meio desse tiroteio de informações, há uma comunidade formada por 8,6 mil editores ativos que debate constantemente sobre as versões dos textos que estão no ar na Wikipédia em português. Dentro deste universo, há um alto escalão formado por 56 administradores, escolhidos pela comunidade por sua boa reputação e imparcialidade na edição dos textos, que dão a palavra final sobre as versões.

Entre esses administradores está Rodrigo Padula, que também coordena projetos voltados para educação da plataforma. Ele observa que guerras de narrativas nas biografias de políticos se intensificam quando cresce o interesse sobre esses personagens.

“A gente observa com frequência às vésperas das eleições equipes de marketing dos políticos tentando limpar suas reputações na plataforma”, conta Padula. “Quando você joga um nome para pesquisar no Google, o primeiro conteúdo que aparece é a Wikipédia. Por isso eles ficam tão incomodados com informação negativa em suas páginas.”

Conteúdo debatido

A deputada Carla Zambelli, por exemplo, admite que sua equipe já tentou mudar “umas 40 vezes” seu perfil na página. Porém, após análise dos editores, suas alterações são sempre rejeitadas. Ela afirma não enxergar problemas que o artigo sobre ela contenha críticas. Porém, acredita que a plataforma é ideologicamente desfavorável para conservadores e diz que está preparando uma ação para mudar o texto de sua biografia.

“Como podem decretar que faço fake news se não fui condenada e há apenas investigações em curso?”, indaga Zambelli, alvo do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos artigos da Wikipédia há um campo chamado “página de discussão”, em que membros discutem abertamente as mudanças de um artigo. Padula reconhece que, em geral, a maioria dos editores tem posicionamento ideológico “mais progressista”. Nas discussões, é comum membros se acusarem de enviesamento político.

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