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Em ato falho, Bolsonaro admite pela 1ª vez que houve golpe militar em 1964

Até hoje, Bolsonaro sempre argumentou que em 1964 tudo foi feito de acordo com a Constituição. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ex-presidente Jair Bolsonaro cometeu um ato falho em suas declarações após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito sobre a trama golpista que visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Na última quinta-feira (21), Bolsonaro foi formalmente indiciado pelos crimes de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Se condenado, as penas máximas para esses crimes podem somar até 28 anos de prisão.

Em uma entrevista à colunista do UOL Raquel Landim, publicada nessa quinta-feira (28), o ex-presidente fez uma revelação que chamou atenção. Ao comentar sobre os eventos de 1964, ele afirmou que “o golpe de Estado não é o que o presidente quer.

Ele tem que se articular com as Forças Armadas, com políticos, classe empresarial, como fizeram em 1964. Ter recurso, tropa nas ruas…”. Com essas palavras, Bolsonaro acaba de admitir, pela primeira vez, que o que ocorreu em 1964 foi, de fato, um golpe — algo que ele sempre negou em declarações anteriores.

Historicamente, sempre que questionado sobre o golpe militar que instaurou a ditadura no Brasil, Bolsonaro refutava a ideia de que houve um golpe. Ele insistia que o que aconteceu foi um ato legítimo, dentro dos parâmetros da Constituição. Segundo o ex-presidente, a ação dos militares em 1964 foi respaldada por uma decisão do Congresso Nacional, que declarou a Presidência da República vacante e chancelou, dias depois, a posse do marechal Castello Branco, embora o presidente deposto, João Goulart, ainda estivesse no país. Essa interpretação era usada por Bolsonaro para argumentar que a ação militar não foi um golpe, mas uma resposta constitucional.

Essa versão foi reforçada pelo governo Bolsonaro em 2019, quando, por meio de um telegrama enviado à ONU, o Brasil negou que o evento de 1964 tivesse sido um golpe de Estado. Naquele documento, o governo justificava a ditadura como uma ação necessária para “afastar a crescente ameaça de uma tomada comunista do Brasil e garantir a preservação das instituições nacionais”, colocando-a dentro do contexto da Guerra Fria.

Entretanto, com o indiciamento pela Polícia Federal e as acusações de envolvimento em uma tentativa de golpe no seu próprio governo, Bolsonaro parece ter deixado de lado essa narrativa. Ou, talvez, ele tenha reconsiderado sua postura, percebendo que uma defesa do golpe de 1964 poderia prejudicar sua defesa no caso atual.

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