Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de março de 2024
Nos áudios, Cid diz que a Polícia Federal queria que ele desse uma determinada versão dos fatos.
Foto: Lula Marques/Agência BrasilO ex-ajudante de ordens Mauro Cid confirmou na sexta-feira (22) ao Supremo Tribunal Federal (STF) o que disse em sua delação premiada. Cid também disse que não sofreu pressão de autoridades no processo da delação.
Ele prestou depoimento com o intuito de explicar os áudios gravados com a voz dele e que se tornaram públicos após reportagem da revista Veja. O depoimento desta sexta foi para o desembargador Airton Vieira, magistrado instrutor no gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
Perguntado sobre os áudios, Cid reconheceu as próprias falas e disse que “a conversa privada, informal, privada, particular, sem intuito de ser exposta entrevista de grande circulação.”
O tenente-coronel afirmou que “não lembra para quem falou essas frases de desabafo, num momento ruim” e que “ainda não conseguiu identificar quem foi essa pessoa.” Ele disse que a conversa “possivelmente” ocorreu por telefone.
Questionado sobre a quem se referia em pontos dos áudios em que fala sobre outras pessoas a serem presas, o tenente-coronel afirmou que o áudio foi um “um desabafo, quer chutar a porta e acaba falando besteira” e que falou de maneira genérica, “em razão da situação que está vivendo”.
Interrogado pelo desembargador sobre quem seriam os policiais que o teriam pressionado a falar algo que não soubesse, disse que “nunca houve induzimento às respostas”.
Cid explicou que os policiais, quando começavam as perguntas, tinha uma outra visão dos fatos. E que Cid então relatava o que, segundo ele, realmente tinha ocorrido.
“Eles tinham outra linha investigativa e a versão dos fatos era outra. Ele explica como tinha ocorrido. Os policiais traziam os fatos na forma que estavam investigando”, disse Cid sobre ter afirmado que, ao realizar a delação, os policiais não acreditavam no que ele contava.
Ele também sustentou que nenhum policial forçou respostas e que ele quer manter o acordo de delação. Como Cid descumpriu as regras da delação, o STF pode decidir romper o acordo.
Nos áudios, Cid diz que a Polícia Federal (PF), nas audiências da delação, queria que ele desse uma determinada versão dos fatos.
“Queriam que eu [Cid] falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”. Ele também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
Os áudios
Cid é tenente-coronel e uma das pessoas mais próximas de Bolsonaro durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro. Cid é investigado, assim como Bolsonaro e outros políticos e militares, em inquéritos que investigam tentativa de golpe de Estado e fraude em cartões de vacina.
Quando concordou com a delação premiada, Cid estava preso preventivamente. Pelas regras da delação, ele se comprometeu a contar o que sabe em troca da diminuição de uma eventual pena. Em seguida, ele foi solto e pôde ser investigado em liberdade.
Ao gravar os áudios, Cid desobedeceu regras da delação, como fazer comentários sobre o acordo, que está em sigilo. O Supremo também entendeu que ele tentou obstruir a Justiça ao fazer as gravações. Por isso, ele foi preso após o depoimento desta sexta.
“Diante da necessidade de afastar qualquer dúvida sobre a legalidade, espontaneidade e voluntariedade da colaboração de Mauro César Barbosa Cid, que confirmou integralmente os termos anteriores de suas declarações, torno pública a ata de audiência realizada para a oitiva do colaborador”, escreveu Alexandre de Moraes.