Uma em cada quatro pessoas que morrem de Covid-19 no mundo é brasileira. Na quinta-feira (4), o Brasil passou a Itália em número total de mortos e se tornou o terceiro país com mais óbitos causados pela pandemia do planeta, a despeito de sua colossal subnotificação. Mas o número de mortos registrados por dia fala mais sobre o avanço do coronavírus pelo Brasil do que o resultado absoluto.
O preço da Covid-19 em vidas brasileiras é fácil de ver. Os resultados mais atualizados, divulgados na noite desta sexta-feira (5), em um horário mais tarde do que o habitual, pelo terceiro dia consecutivo, mostram 1.005 mortes no Brasil registradas em 24 horas. Os casos no País já somam 645.771.
Não vale, para explicar as mais de 35 mil mortes pelo novo coronavírus no país, a desculpa de que somos 210 milhões de habitantes. A China tem 1,3 bilhão de habitantes e registrou 4.634 mortes desde o início da pandemia, um número de óbitos menor do que o do Rio de Janeiro. Os números chineses podem até não ser confiáveis. Mas tampouco os nossos correspondem à realidade. Ela é ainda pior, pois só notificamos uma parte de doentes e mortos.
OMS
Com mais de uma morte por minuto no Brasil e com a América do Sul como o epicentro da pandemia do coronavírus, a OMS (Organização Mundial da Saúde) faz um apelo aos governos da região: “encontrem o vírus”.
Margaret Harris, porta-voz da entidade, declarou em Genebra (Suíça) que a situação no Brasil e na região é “profundamente, profundamente preocupante”.
Os dados sustentam essa preocupação: o Brasil é hoje o terceiro país com maior número de mortes e segundo em termos de casos. Considerando apenas os últimos sete dias, o Brasil lidera no mundo, segundo os dados da própria OMS.
A agência de Saúde confirma que os “principais motores do mundo são os países da América do Sul, Central e do Norte, em especial os EUA”.
A OMS, porém, alerta que só haverá um controle da doença se governos conseguirem saber onde está o vírus. Para isso, porém, testes serão necessários. No caso brasileiro, o número de testes é considerado como baixo.
“Testem, rastreiem”, insistiu. “Encontrem a todos que tem potencialmente o vírus”, afirmou Harris. Segundo ela, em locais com intensa transmissão, uma opção para governos é a de realizar testes direcionados, com a população que poderia ser mais afetada e nas áreas onde o vírus poderia se mover mais rapidamente.
“Testar é crucial. Saber onde o vírus está e que tem potencialmente a possibilidade de ser afetado é a forma de parar a transmissão”, disse.
Outra recomendação da entidade é para que governos estabeleçam “parcerias com suas sociedades”. “Os países que tiveram êxito foram aqueles que estipularam parcerias com a população”, indicou Harris.
Para a representante da OMS, o fato de países que viveram um intenso surto nas últimas semanas terem hoje um número baixo de casos revela que a estratégia descrita pela entidade dá resultados. “Sabemos o que funciona. Temos países que tiveram surto e hoje não têm casos”, apontou.
Segundo ela, “quando se rompe a cadeia de transmissão, é aí que o surto começa a cair”. Para isso, porém, governos precisam ampliar os testes.
Um sinal da crise brasileira foi demonstrado indiretamente numa reunião fechada entre a OMS e governos, na quinta-feira (4). O país escolhido na América do Sul para mostrar o que tem feito para lidar com a pandemia não foi o Brasil. Mas a Argentina, que fez uma ampla apresentação de suas medidas.