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Política Em carta a Bolsonaro, Pfizer alertou que rapidez para contratar vacinas era “crucial”

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Documento, enviado pela Pfizer em setembro, foi ignorado pelo Planalto por dois meses.

Foto: Pfizer/BioNTech/Divulgação
A eficácia da vacina da Pfizer pode diminuir seis meses após a imunização. (Foto: Pfizer/BioNTech/Divulgação)

Em carta enviada pelo CEO da Pfizer, Albert Bourla, ao presidente Jair Bolsonaro, em setembro de 2020, a empresa alertou que havia feito uma proposta ao Ministério da Saúde para fornecer a vacina contra Covid-19, até então em desenvolvimento, sem que tivesse obtido uma resposta do Brasil. Bourla advertiu que, apesar de todos os esforços que fazia para que doses do imunizante – à época em fase de testes – fossem reservadas ao Brasil, a celeridade nas negociações era “essencial” e “crucial” em razão da alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020. A correspondência teria ficado dois meses sem resposta – leia abaixo a íntegra da carta.

Segundo o CEO da Pfizer, até aquele momento representantes da empresa no País já haviam se reunido com o Ministério da Economia e com a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, e com o Ministério da Saúde.

“Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos uma resposta. Sabendo que o tempo é essencial, minha equipe está interessada em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com vossa excelência ou representantes do governo brasileiro o mais rapidamente possível”, afirmou Bourla na carta.

A correspondência foi entregue à CPI da Covid nesta quarta-feira (12), pelo ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fábio Wajngarten. Ele contou que, ao tomar conhecimento do documento, em novembro, respondeu no mesmo dia ao escritório da Pfizer em Nova York.

Segundo Wajngarten, até então nenhuma autoridade tinha retornado ao CEO da Pfizer, que também endereçou a carta ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ao então ministro da Casa Civil (hoje Defesa), Walter Braga Netto, ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster.

No documento, Bourla relatou que a vacina da Pfizer era uma opção “muito promissora” para ajudar o governo brasileiro a mitigar a pandemia da covid-19. “Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020”, alertou o CEO da farmacêutica.

Bourla descreveu o ensaio clínico pelo qual passava o imunizante, produzido em parceria com a empresa alemã BioNtech. “Atualmente, estamos conduzindo um ensaio clínico em grande escala de fase 2/3, com pelo menos 30 mil participantes em um grupo seleto de países em todo o mundo, incluindo dois centros de pesquisa no Brasil com cerca de 2 mil brasileiros voluntários. Estamos no caminho certo para buscar uma revisão regulatória de nossa vacina em outubro de 2020, com centenas de milhares de doses já produzidas”, disse.

O CEO da Pfizer também escreveu sobre o acordo que a farmacêutica tinha fechado com o governo dos Estados Unidos, ainda sob a administração de Donald Trump, para fornecer 100 milhões de doses da vacina, com a opção de oferecer 500 milhões de doses adicionais.

“A Pfizer tem o maior contrato com o governo dos EUA em termos de valor para uma vacina contra a COVID-19 até o momento, demonstrando a confiança que a Administração do presidente Donald Trump tem em nossa ciência e nossa capacidade de produção”, destacou o executivo, lembrando, ainda, de acordos com o Reino Unido, Canadá, Japão e “vários outros países”, além de negociações finais com a União Europeia para fornecimento de 200 milhões de doses. “Caso Vossa Excelência ou membros de sua equipe tenham alguma dúvida, não hesitem em entrar em contato comigo diretamente ou com minha equipe no Brasil, incluindo o Presidente da nossa subsidiária no país, Carlos Murillo”.

Apesar da iniciativa da empresa, o Brasil só fechou o primeiro contrato com a Pfizer em março deste ano, cerca de sete meses depois do envio da carta. Em janeiro, o Ministério da Saúde chegou a criticar a proposta de venda de doses do imunizante. Na época, a pasta disse em nota que a aquisição de número restrito de doses funcionaria mais como uma “conquista de marketing” para a fabricante, mas seria uma “frustração” para os brasileiros e ainda classificou como “leoninas” e “absurdas” cláusulas do contrato proposto.

O governo poderia ter editado ainda em janeiro uma Medida Provisória que daria a segurança jurídica necessária para o Ministério da Saúde avançar com a compra do imunizante. A primeira versão de uma MP publicada em 6 de janeiro continha um artigo que autorizava a União a assumir a responsabilidade sobre efeitos adversos que os imunizantes pudessem apresentar – importante no caso da Pfizer. No entanto, o Executivo contrariou órgãos técnicos e excluiu o trecho da medida.

A cláusula só entrou em vigor por uma reação do Congresso, especificamente uma iniciativa do Senado. Em 24 de fevereiro, os senadores aprovaram um projeto de lei que permitia que os compradores assumissem a responsabilidade civil pela imunização.

Íntegra da carta enviada pela Pfizer

Dr. Albert Bourla Pfizer Inc

Chairman of’the Board 235 East 42″ Street, New York, NY 10017-5755

Chief Executive Officer Tel. 212-733-9623

12 de setembro de 2020

Excelentíssimo Senhor Presidente da República Jair Bolsonaro,

Na luta contra a COVID-19, uma vacina é parte critica para lidar com a crise de saúde global, diminuindo as taxas de infecção, doença e morte em todo o mundo. A Pfizer tem estado na linha de frente no enfrentamento desta pandemia que afeta brasileiros e pacientes em todo o mundo, desde os primeiros dias desta emergência. A Pfizer foi fundada na cidade de Nova York, está sediada nos Estados Unidos há mais de 170 anos, e opera no Brasil há aproximadamente 70 anos. Junto com nosso parceiro, a empresa alemã BioNTech, estamos aproveitando décadas de experiência científica para desenvolver, testar e fabricar uma vacina de mRNA para ajudar a prevenir a infecção pela COVID-19. Atualmente, estamos conduzindo um ensaio clínico em grande escala de Fase 2/3 com pelo menos 30.000 participantes em um grupo seleto de países em todo o mundo, incluindo dois centros de pesquisa no Brasil com cerca de 2.000 brasileiros voluntários. Estamos no caminho certo para buscar uma revisão regulatória de nossa vacina em outubro de 2020, com centenas de milhares de doses já produzidas.

A potencial vacina da Pfizer e da BioNTech é uma opção muito promissora para ajudar seu governo a mitigar esta pandemia. Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020. Como deve ser do conhecimento de Vossa Excelência, fechamos um acordo com o governo dos Estados Unidos para fornecer 100 milhões de doses de nossa potencial vacina, com a opção de oferecer 500 milhões de doses adicionais. A Pfizer tem o maior contrato com o governo dos EUA em termos de valor para uma vacina contra a COVID-19 até o momento, demonstrando a confiança que a Administração do Presidente Donald Trump tem em nossa ciência e nossa capacidade de produção. O Dr. Moncef Slaoui, Conselheiro Chefe da Operação Warp Speed do Governo dos Estados Unidos, visitou a instalação da Pfizer que está produzindo nossa vacina COVID-19 e que poderia abastecer o Brasil. Temos ainda acordos com o Reino Unido, Canadá, Japão e vários outros países, e estamos em negociações finais com a União Europeia para fornecer 200 milhões de doses, com uma opção de fornecimento adicional de mais 100 milhões de doses.

Minha equipe no Brasil se reuniu com representantes de seus Ministérios da Saúde e da Economia, bem como com a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos uma resposta. Sabendo que o tempo é essencial, minha equipe está interessada em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com Vossa Excelência ou representantes do Governo Brasileiro o mais rapidamente possível.

Finalmente, como Presidente Mundial da Pfizer, estou orgulhoso em assinar um acordo histórico demonstrando um compromisso unificado em manter à integridade do processo científico enquanto trabalhamos para obter os registros regulatórios e aprovações das primeiras vacinas contra a COVID-19. Caso Vossa Excelência ou membros de sua equipe tenham alguma dúvida, não hesitem em entrar em contato comigo diretamente ou com minha equipe no Brasil, incluindo o Presidente de nossa subsidiária no país, Carlos Murillo (Carlos.MurilloO pfizer.com).

Atenciosamente,

Dr. Albert Bourla

ce: Vice-Presidente da República Federativa do Brasil, Exmo. Sr. Hamilton Mourão

Ministro de Estado da Casa Civil, Exmo. Sr. Walter Braga Netto

Ministro de Estado da Saúde, Exmo. Sr. Eduardo Pazuello

Ministro de Estado da Economia, Exmo. Sr. Paulo Guedes

Embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Exmo. Sr. Nestor Foster.

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