Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de setembro de 2019
Marcelo Odebrecht quer voltar a conduzir os negócios do grupo, a partir da holding familiar Kieppe. Logo após sua visita à sede da companhia em São Paulo, em 12 de setembro, quando obteve progressão do regime de prisão domiciliar para semiaberto, ele escreveu uma carta à família.
Em pouco mais de três páginas, ele discorre sobre ter encontrado os negócios sem liderança e afirma: “me coloco à disposição da nossa família para ajudar no que for preciso, tanto no âmbito de Kieppe, quanto da Organização”.
A visita de Marcelo já havia deixado todo entorno do grupo em alerta e preocupado, justamente quanto a uma iniciativa nessa direção. A ida do ex-presidente às empresas gerou reação e críticas de diversos conselheiros independentes das controladas, especialmente em Braskem, por se tratar um condenado pela Justiça em cumprimento de pena e legalmente afastado dos negócios.
Marcelo afirma que vê espaço para tal atuação e, ao mesmo tempo, respeitar os limites do acordo de colaboração que celebrou com a Justiça. Diz na carta que só retornará se for desejo da família. “Se a opção, porém, infelizmente for para mantermos o distanciamento atual [diria até ausência], de fato não sou a pessoa certa para contribuir com vocês nem hoje, nem no futuro junto à Kieppe, pois seria contra minha natureza.”
Desde 17 de junho, a Odebrecht S.A. (ODB) e mais 20 holdings e subholdings, incluindo a Kieppe, estão em recuperação judicial, com R$ 98,5 bilhões em dívidas. O neto do fundador Norberto Odebrecht cita o avô ao falar de liderança e diz que pode estar chegando tarde, mas que não pode se furtar a tentar ajudar.
Desde a passagem do ex-executivo às dependências do conglomerado, os credores estão apreensivos sobre o que pode ocorrer se Marcelo tentar voltar a influenciar a gestão. Alguns alegam que isso traria problemas para a negociação das dívidas.
A carta foi entregue mesmo após uma manifestação formal de seu pai, Emílio Odebrecht, no dia posterior à sua visitam na qual o patriarca vivo tentou reforçar que manteria os avanços de governança implementados desde 2017, com afastamento da família dos negócios, e reforçava decisão já anunciada que seu sucessor será o outro filho, Maurício Odebrecht.
Consultado, Marcelo respondeu por meio de seu advogado: “Entendo que temas no âmbito da família são de foro íntimo e privado e assim devem ser tratados.” A Odebrecht disse que não está envolvida em eventuais discussões dos acionistas, segundo sua assessoria de imprensa.