Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de março de 2024
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou pela primeira vez que havia acertado a inclusão do oposicionista Alexei Navalny em uma troca de prisioneiros com os Estados Unidos (EUA) pouco antes de sua morte, em fevereiro, em uma prisão no Ártico. Ao mencionar o caso, além de confirmar os planos de troca, ele chamou a morte de “um incidente infeliz” — Putin também quebrou uma espécie de “tabu”: ele jamais havia mencionado publicamente o nome de Navalny. As declarações foram feitas em um discurso comedido após a confirmação da vitória na votação finalizada neste domingo: segundo a Comissão Eleitoral Central, Putin venceu com 87% dos votos, cerca de dez pontos percentuais a mais do que em 2018.
A troca havia sido revelada dias depois da morte do dissidente por uma aliada, Maria Pevchikh, e tem sido confirmada por diversas fontes ligadas a Navalny e ao Kremlin desde então.
“Alguns dias antes do falecimento do sr. Navalny, alguns colegas, não funcionários da administração, mas algumas pessoas, disseram-me que havia uma ideia de trocar o sr. Navalny por algumas pessoas que estão presas em países ocidentais”, disse Putin. “Você pode acreditar em mim, ou não: a pessoa que falou comigo ainda não havia terminado a frase, mas eu disse: ‘Concordo’. Vamos mudá-lo para que ele não volte.”
O presidente, que classificou a morte como um “incidente infeliz”, rebateu um jornalista americano que fez a pergunta: “Quanto ao senhor Navalny, sim, ele faleceu. Este é sempre um acontecimento triste. Infelizmente, o que aconteceu aconteceu… Mas acontece. Nada pode ser feito a respeito. A vida é assim. Tivemos outros casos em que pessoas na prisão faleceram. Isso não aconteceu nos Estados Unidos? Aconteceu, e mais de uma vez.
As declarações do presidente reeleito foram duramente criticadas por aliados de Navalny. Leonid Volkov, um dos nomes mais próximos ao opositor, disse que Putin “o matou para não trocá-lo”.
“O inseto sugador de sangue revela-se impune. Ele vai estourar em breve, haverá alguns respingos. Putin matou Alexei Navalny. E agora ele decidiu que não havia mais necessidade de fingir. Ele mesmo confirmou isso. E ele prometeu matar de novo e de novo”, escreveu no X, o antigo Twitter.
Maria Pevkich, chefe da Fundação Anticorrupção, criada por Navalny, afirmou que ainda não tem palavras, e chamou os governantes russos de “escória cínica e mentirosa”. Ruslan Shaveddinov, ativista político e jornalista investigativo, entendeu a fala como uma declaração de culpa do presidente.
“Deleita-se com a impunidade. Não creio que haverá um julgamento justo, creio que tudo terminará de forma diferente para ele”, escreveu no X.
No discurso, o presidente russo agradeceu seus eleitores, e afirmou que o país vive um momento “dramático”, e que não se deixará intimidar por forças externas.
“A fonte de poder na Rússia é o povo”, disse. “E a quem quis suprimir nossa vontade, nossa consciência, ninguém na história jamais conseguiu fazer isso, não aconteceu no passado e nunca vai acontecer no futuro.”
Ao contrário da vitória em 2018, quando celebrou a vitória em um discurso perto da Praça Vermelha, o presidente reeleito falou rapidamente na sede de sua campanha, na capital russa. Putin fez uma homenagem aos militares russos que atualmente lutam na Ucrânia, afirmando que eles estão “na primeira linha de defesa do país”, e que garantem a segurança de todos. Ao falar da eleição, disse que a participação contudente, de 74%, demonstrou a consolidação da sociedade, e que os russos “sentem que muito depende deles” em um momento difícil para a Rússia.
“A alta participação eleitoral está ligada aos eventos dramáticos que o país vive hoje”, disse o presidente reeleito. “Obrigado a todos os russos pela confiança, farei tudo ao meu poder para cumprir tarefas e objetivos prioritários.”
Após o discurso, Putin concedeu uma entrevista coletiva à imprensa russa, na qual reiterou sua gratidão aos russos por mais uma vitória nas urnas.