Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 31 de maio de 2017
Em Portugal para falar sobre corrupção nas Conferências do Estoril, que acontecem esta semana e conta com especialistas do mundo inteiro, o juiz Sérgio Moro afirmou que o fim da corrupção sistêmica no Brasil “não é ainda algo garantido”. Apesar de certo otimismo de que o país vá atravessar a “turbulência” pela qual está passando, o magistrado disse que o trabalho ainda está em andamento.
“Acredito que, apesar de todas essas turbulências, nós teremos um país melhor ao final do processo, com uma economia mais forte e com uma democracia de melhor qualidade, no qual a corrupção sistêmica passe a ser apenas uma triste memória do passado. Isso não é ainda algo garantido, é um trabalho em andamento, mas é possível ter esperança”, afirmou.
No evento português, o magistrado disse que existe uma perspectiva positiva em relação ao combate à corrupção no Brasil.
“Eu sei que muitas pessoas olham atentamente para a situação brasileira atual e se espantam com os níveis de corrupção que foram descobertos na Lava-Jato. De fato, considerando os casos que já foram julgados, porque existem muitos casos ainda pendentes, a corrupção descoberta no Brasil é vergonhosa. Mas há uma outra perspectiva que é a de que o Brasil está dando passos sérios e firmes no enfrentamento da corrupção sistêmica e não há nenhuma vergonha nesse tipo de ação”, disse ele.
O juiz ainda voltou a defender a delação premiada como instrumento de investigação na operação Lava-Jato.
“É um meio importante de investigação, mas não elimina os outros. A regra de ouro é que é preciso ter prova de corroboração”, disse ele, que acrescentou:
“É necessário meios especiais para investigar crimes realizados em segredo. Tem vários e um deles é a delação premiada, que é, basicamente, usar um criminoso para chegar ao seu cúmplice”, explicou o juiz à plateia. “A ideia é fazer um acordo com um criminoso menor para chegar a um maior. Ou fazer um acordo com um criminoso grande para chegar a outros do mesmo porte, numa espécie de efeito dominó.”
Questionado sobre os aspectos éticos do uso da delação, Moro reforçou que a ação foi extremamente importante para que as investigações expandissem no país.
“Se você tem um sistema de corrupção, é melhor ter isso descoberto e algumas pessoas punidas do que ter esse esquema de corrupção oculto pra sempre. É melhor ter alguém condenado do que ninguém condenado”, avaliou.
Segundo Moro, a utilização da delação premiada ainda leva também a uma quebra de confiança dentro desses grupos criminosos. “Acaba tendo um efeito disruptivo”, disse Moro, que ainda comparou a corrupção no Brasil com o crime organizado.
Mãos Limpas
Quem também esteve presente nessa conferência foi o italiano Antonio di Pietro, fundador do partido de esquerda “Itália dos Valores” e antigo procurador da operação Mãos Limpas, à qual Moro costuma se indicar como referência para a Lava-Jato.
Di Pietro aproveitou a ocasião para parabenizar pessoalmente o juiz brasileiro pela operação e exaltou a importância da opinião pública para fortalecer as ações judiciais contra corrupção. Moro reiterou o argumento do italiano ao afirmar que o processo judicial sozinho não é suficiente para enfrentar a corrupção.
“Cortes independentes e um processo eficaz são condições necessárias para o enfrentamento da corrupção sistêmica. Além disso, é preciso que outros setores do poder público e da sociedade se mobilizem contra a corrupção, a sociedade civil, o setor privado e lideranças políticas não comprometidas com a corrupção” afirmou. (AG)