Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de setembro de 2024
A Boeing deverá pagar à Embraer US$ 150 milhões (cerca de R$ 828 milhões) pelo rompimento unilateral do acordo entre as duas empresas, em 2020, decidiu na segunda-feira (16) a Corte Arbitral de Nova York, nos Estados Unidos. “Estamos satisfeitos por ter concluído o processo de arbitragem com a Embraer. De forma mais ampla, temos orgulho de nossos mais de 90 anos de parceria com o Brasil e esperamos continuar contribuindo para a indústria aeroespacial brasileira”, disse a Boeing, em comunicado oficial.
Anunciado como o maior negócio da aviação brasileira, em 2018, a transação de US$ 4,2 bilhões resultaria na joint venture Boeing Brasil Commercial, destinada à aviação comercial. Com a operação, a Boeing – que iria controlar 80% da nova empresa – tinha o objetivo de enfrentar a união entre a europeia Airbus e a canadense Bombardier.
No entanto, atropelada por uma grave crise de segurança com o modelo Boeing 737-Max e pela pandemia, a companhia americana rescindiu o contrato em abril de 2020, na data-limite para a desistência do negócio. O motivo alegado pela empresa americana foi que a Embraer teria descumprido obrigações contratuais.
Não há detalhes sobre a forma de pagamento nem a quantia final a ser recebida. Os analistas Victor Mizusaki e Andre Ferreira, do Bradesco BBI, calculam que ficará em torno de US$ 85 milhões (cerca de R$ 469 milhões), depois de descontados PIS/Cofins e Imposto de Renda.
Analistas e investidores esperavam mais. Segundo o BTG Pactual, a Embraer investiu pelo menos US$ 241 milhões (R$ 1,33 bilhão) para separar e, posteriormente, reintegrar sua divisão de aviação comercial. Segundo o Safra, o valor a ser recebido pela Embraer corresponde apenas à taxa de rescisão do contrato, sem custos adicionais. A expectativa era de que a Embraer recebesse entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões (de R$ 1,1 bilhão a R$ 1,6 bilhão).
Com isso, as ações da fabricante de aviões brasileira despencaram. A empresa esteve durante todo o dia na segunda-feira entre as maiores baixas do Ibovespa: as ações caíram 5,3% e a empresa perdeu R$ 2,1 bilhões em valor de mercado. Segundo o Itaú BBA, por conta da falta de transparência da arbitragem, analistas mantinham as ações da Embraer, com a esperança de uma surpresa positiva na disputa com a Boeing.
Mesmo com o valor inferior ao esperado, os analistas são unânimes em afirmar que a brasileira deu a volta por cima e há diversos fatores que a favorecem. “É melhor ter um acordo agridoce do que acordo nenhum”, escreveram Lucas Marquiori e Fernanda Recchia, do BTG, em relatório. “Apesar dos desafios enfrentados pela Boeing nos últimos anos, chegar a uma resolução e concordar com um pagamento significativo é um desenvolvimento positivo.”
Para os analistas, as perspectivas para a Embraer são boas. Segundo o Itaú BBA, a empresa tem novos pedidos em aviação comercial e de defesa, deve melhorar a lucratividade e receber um fluxo positivo de investidores internacionais, já que a Airbus e a Boeing enfrentam desafios com as entregas.
“Mantemos nossa perspectiva positiva sobre as ações e esperamos que seu impulso continue”, escrevem em relatório Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano, do time de transporte e logística do Bradesco BBA. O BTG também tem boas expectativas, com o momento favorável a lucro, bem como o fato de a Embraer estar numa trilha para redução de endividamento e “a retomada do pagamento de dividendos no próximo ano”.
Na visão dos analistas, a Embraer passa por um bom momento para os negócios: no segmento comercial, a empresa está se beneficiando da falta de capacidade de fabricação dos concorrentes, o que a ajuda a ganhar terreno globalmente; no segmento executivo, sua carteira de pedidos é recorde; em defesa, a prioridade está na promoção do avião militar de carga KC-390; e espera-se que sua divisão de serviços e suporte acelere o crescimento após a abertura de uma nova unidade de manutenção em Portugal.
O Safra também vê um ambiente operacional cada vez mais favorável para a empresa, impulsionado por uma forte recuperação na aviação comercial e pelo aumento de sua divisão de defesa. A expectativa do Bradesco BBI é de que Embraer irá zerar as perdas acumuladas no patrimônio líquido no segundo semestre de 2024, o que permitiria à empresa retomar a distribuição de dividendos em 2025. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.