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Colunistas Empreendedorismo feminino: corrigir erros e garantir direitos

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

É evidente haver uma lista crescente de políticas públicas e/ou iniciativas privadas de fomento ao empreendedorismo feminino no Brasil e no mundo. O foco nesse público não é obra do acaso, mas de constatações empíricas e acadêmicas sobre o seu potencial para transformar positivamente condições sociais e econômicas nos mais diversos contextos. As mulheres aproveitam da melhor forma as oportunidades que lhes são dadas para colocar em prática suas capacidades e experiências, e com isso conquistam novos espaços e agregam valores – tangíveis e intangíveis – para si e para o seu entorno. Empreendedoras costumam, por exemplo, criar empregos para outras mulheres e estimulá-las para que também abram negócios. Também é comprovado que quando têm recursos financeiros à disposição, elas investem mais em saúde, nutrição e educação de suas famílias do que os homens, o que pode fazer uma diferença substancial nos destinos dos seus descendentes e pessoas próximas. Essas características, entre outras, reforçam a importância do empreendedorismo feminino como catalisador de mudanças necessárias e esperadas para minimizar desigualdades e impulsionar o desenvolvimento sustentável. O lema escolhido pela Organização das Nações Unidas para o Dia Internacional da Mulher em 2024 é muito pertinente e reforça essa convicção: “Invista em mulheres, acelere o progresso!”.

Na Agência e Instituto Besouro, em que nos dedicamos prioritariamente a disseminar conhecimentos para viabilizar negócios de pessoas que integram a base da pirâmide social, temos a oportunidade de testemunhar os benefícios do empreendedorismo nas vidas de mulheres e das comunidades em que estão inseridas. Elas costumam ser maioria nas turmas dos projetos que conduzimos, mas despontam iniciativas com foco específico em atendê-las. Por exemplo, há cinco anos mantemos o programa Gerdau Transforma, em parceria com a gigante da siderurgia, que já beneficiou mais de 30 mil pessoas no Brasil e no exterior, e no âmbito dele oferecemos turmas exclusivas para o público feminino. No Rio de Janeiro, por sua vez, em conjunto com o governo estadual, conduzimos o Desenvolve Mulher, ação que abrangeu 5,6 mil cariocas chefas de família e mães solo. Além de aulas sobre empreendedorismo, elas receberam capacitações profissionais e bolsa estudos, e 60% das participantes declararam, ao final da iniciativa, perceberem melhora na sua segurança financeira, enquanto 90% afirmaram haver descoberto novos talentos em si mesmas e 67% comunicaram acreditar na possibilidade de, a partir do aprendizado, transformarem as suas realidades para melhor. Sobressaiu, também, o fato de 80% manifestarem terem inspirado outras pessoas a buscarem trabalho ou capacitação.

Em todas as nossas experiências com educação empreendedora para mulheres, a pluralidade das participantes convive com a regularidade no que diz respeito às consequências positivas dessas atividades. Nossas alunas manifestam, o quanto sua autoestima melhora após o contato com saberes que ampliam seus horizontes e possibilidades. As lições aprendidas e as práticas adotadas a partir delas favorecem, ainda, que mães (muitas vezes solo), impedidas de trabalhar fora de casa pela necessidade de zelar por filhos e filhas, encontrem ou amadureçam ideias sobre como manter atividades remuneradas sem deixar de lado a atenção às crianças. Ainda, para algumas, o incremento de renda com o empreendedorismo pode representar condições de independência e de rompimento de ciclos de violência doméstica.

Ano após ano, levantamentos sobre empreendedorismo no Brasil mostram que a participação feminina cresce nesse âmbito: as donas de negócios já superam 10,3 milhões, segundo a pesquisa Empreendedorismo Feminino 2022, realizada pelo Sebrae, ou seja, são 34,4% do total. Mas o número pode e precisa melhorar. Hoje, mais de 50% dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres, mas, infelizmente, neles a insegurança alimentar é mais ampla que nos demais. A abertura de negócios próprios pode ajudar a combater esse quadro. Além disso, pode ampliar condições para superação de preconceitos e abandonos traduzidos nos fatos de que, hoje, mulheres ainda compõem a maior parcela de desempregados e desalentados no país, ocupam os piores postos de trabalho e recebem as mais baixas remunerações, e muitas vezes são privadas de estudos e qualificações porque precisam assumir sozinhas responsabilidades que deveriam ser compartilhadas com seus parceiros.

Há temas que, em razão de sua obviedade, nem deveriam motivar debates. Entre eles, os de que o lugar das mulheres é onde elas quiserem e de que elas têm condições de desempenhar, com tanta ou mais excelência, ofícios majoritariamente delegados aos homens – a concretização disso, para qualquer pessoa, vincula-se às oportunidades na vida. Infelizmente, o cotidiano indica que precisamos continuar a pautá-los para eliminarmos estruturas, normas, estereótipos e relações de poder que insistem em colocar o público feminino em desvantagem e expô-lo a violências, físicas e simbólicas. No Grupo Besouro seguiremos a defender o empreendedorismo feminino como ferramenta para extirpar contextos opressores e injustos, e a necessidade de mais e mais iniciativas para viabilizar às mulheres os recursos necessários para que concretizem suas vocações e aspirações. Não se trata de privilegiar ninguém, mas de reparar erros históricos e de garantir direitos fundamentais que precisam ser respeitados e usufruídos por todas e todos.

(Vinicius Mendes Lima, Membro do Grupo FRONT e Fundador do Grupo Besouro)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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