Sábado, 18 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de maio de 2015
O ex-vice-presidente da Camargo Corrêa Eduardo Hermelino Leite, detido em novembro do ano passado, na sétima fase da Operação Lava-Jato, e atualmente em prisão domiciliar, disse na terça-feira à CPI da Petrobras que o pagamento de propina era uma “condição [para o] funcionamento” na relação das empreiteiras com a estatal. Leite admitiu o pagamento de 110 milhões de reais em propina para os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa (47 milhões de reais) e Renato Duque (63 milhões de reais). Ele se disse arrependido dos atos.
“Herdei uma prática e tive que administrá-la”, disse Leite. O empreiteiro informou que exerceu a função de presidente para clientes aprovados na Camargo Corrêa, entre 2005 a 2009. A partir de setembro de 2011, chegou à Diretoria de Óleo e Gás da companhia, assumindo na sequência a vice-presidência da construtora.
“Quando cheguei à vice-presidência, me foi informado que [isso] era uma condição de funcionamento dentro desse cliente [Petrobras]. As condições eram essas e deveriam ser cumpridas essas rotinas”, explicou.
O ex-executivo entregou à CPI dez depoimentos que prestou à Justiça em acordo de delação premiada, detalhando as combinações com Costa e Duque, além do doleiro Alberto Youssef, apontado pelo Ministério Público Federal como operador do esquema de superfaturamento de contratos da Petrobras.
“Tive duas reuniões com o Renato Duque para tratar de dívidas referentes a propina e dois encontros com o Paulo Roberto. Elas aconteceram fora da Petrobras. Com Paulo Roberto foi em um hotel em São Paulo e com Duque na casa do Júlio Camargo [executivo da Toyo Setal, também preso na Lava-Jato]”.
Leite apontou o PT como beneficiário da propina paga à Diretoria de Serviços da Petrobras, na época ocupada por Duque, em três ocasiões. Ele também contou que o ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto pediu a ele que os débitos da Camargo Corrêa com propinas atrasadas fossem quitados via doações oficiais eleitorais ao partido.
De acordo com Leite, na Camargo Corrêa o pagamento de propina referente a contratos da Petrobras entrava como “custo” para a empresa, por meio da contratação de consultorias, e que não se tratava de caixa dois. “Umas consultorias eram pagas por trabalhos majorados e executados e outras por trabalhos executados”. Ele informou que os valores relativos à propina eram de 2% sobre os custos dos contratos e esse percentual era acrescido nas propostas da Camargo Corrêa à estatal.
Aos deputados, o empreiteiro disse que se arrepende de ter participado do esquema. Acrescentou que, por causa disso, está com o futuro pessoal e profissional “profundamente” comprometido. “Me fizeram uma pergunta, se eu me achava acima do que acontecia, se como vice-presidente teria a capacidade, trabalhando como trabalhei, se outra pessoa tivesse sido nomeada, ela teria feito diferente. Provavelmente ela teria feito a mesma coisa. Era uma coisa já preestabelecida. Me arrependo de não ter deixado a atividade, mas tinha sido recentemente alçado a vice-presidente de uma grande companhia. Era uma situação muito difícil”, argumentou em sua fala.
Leite chegou a chorar quando perguntado pelo deputado Carlos Andrade (PHS-RR) sobre o que o levou a fazer acordo de delação premiada com a Justiça. O executivo ficou com a voz embargada ao falar dos filhos e tirou os óculos para enxugar as lágrimas.
O ex-executivo disse que a empresa não chegou a ser ameaçada caso não pagasse propina, mas alegou que, caso o pagamento não fosse feito, o vínculo com a estatal ficaria prejudicado. “Se pedia uma reunião com o diretor da Petrobras, só conseguia se pagasse o que era pedido pelos operadores, como o Alberto Youssef”, ressaltou.
A Camargo Corrêa venceu licitações no valor de mais de 6 bilhões de reais para obras nas refinarias Getúlio Vargas, no Paraná, e Abreu e Lima, em Pernambuco. Leite, conhecido como Leitoso, foi apontado pelo presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, como responsável pelos contatos com os políticos e pagamento de propina a diretores da Petrobras.
Segundo Camargo, também houve pagamento de propina para que a obra da Refinaria Henrique Lage, em São José dos Campos (SP), fosse dirigida ao consórcio de empresas que ele representava na época, formado por Camargo Corrêa e OAS.
A usina estava orçada em 1 bilhão de reais e Camargo diz ter pago 6 milhões de reais a Duque e ao ex-gerente de Tecnologia Pedro Barusco. Segundo Camargo, a Camargo Corrêa pagou 23,3 milhões de reais a uma de suas firmas, a Treviso, para ele intermediar o negócio.