Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2018
O empresário Luís Alberto Gomes Gonçalves, o Beto, sócio da empresa JR Pavimentação, que era considerado foragido pela PF (Polícia Federal), se entregou nesta sexta-feira. Ele teve o mandado de prisão expedido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) durante a operação Boca de Lobo, a mesma que prendeu o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, na quinta-feira.
Gonçalves chegou ao prédio da PF, na Praça Mauá, no Rio, na tarde desta sexta, onde prestou depoimento. Ele foi citado por Carlos Miranda, operador do ex-governador Sérgio Cabral, como o responsável por receber uma espécie de prêmio que Cabral pagava a Pezão . Ele teria guardado R$ 1 milhão em propinas para Pezão, valor repassado por Miranda a mando de Cabral.
A empresa era responsável por pequenas e médias obras de engenharia civil e de pavimentação no sul do estado do Rio. Ainda durante sua delação, Carlos Miranda disse que Beto também pagou um percentual de 5% de propina de todos os contratos com o governo do Rio. Segundo ele, isso durou de 2007 até o fim do governo de Cabral.
A operação Boca de Lobo, da Polícia Federal, cumpriu nove mandados de prisão, entre eles o do governador Luiz Fernando Pezão. Ele é acusado de ter mantido em seu governo o esquema de propinas que já funcionava durante o governo de Sérgio Cabral, já preso. Os crimes apurados pela PF são corrupção, lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa e outros crimes ligados a fraudes em licitações.
Depoimento de Amorin
O empresário César Augusto Craveiro de Amorim, diretor da empresa High End, confirmou à Polícia Federal que recebeu R$ 300 mil em dinheiro vivo de Carlos Miranda, operador do ex-governador Sérgio Cabral, para realizar uma obra na casa de Piraí, município do interior do Rio, do governador Pezão.
Ele, porém, negou ter recebido outros pagamentos do grupo e disse que não faz parte da organização criminosa investigada no caso.
César Amorim, que também foi preso na operação, prestou depoimento à PF. Suas declarações confirmam as suspeitas dos investigadores de que a obra na casa de Pezão foi bancada com dinheiro da organização criminosa liderada por Cabral – Miranda, que fez delação premiada, era o arrecadador de propina do esquema.
Segundo o empresário, ele instalou um sistema de ‘home theater’ e som ambiente na área de lazer da casa de Pezão, em Piraí, em 2009, a pedido de Sérgio Cabral e com o consentimento do atual governador. Na época, Cabral era governador do Estado e Pezão, seu vice.
“O declarante apresentou o projeto pronto a Cabral, informando que o valor ficou por volta de R$ 350 mil”, afirmou no depoimento. Cabral então, segundo o relato, “deu ordens para realizar o projeto”: “Pezão sabia que seria feita uma instalação de algum sistema de áudio e vídeo na casa dele, em Piraí, por ordem de Cabral”, disse ainda o empresário.
Após a realização do serviço, Miranda foi encarregado de operar o pagamento em dinheiro vivo e sem emissão de nota fiscal, por isso houve um desconto de R$ 50 mil, afirmou César Amorim.
“Carlos Miranda pessoalmente levou R$ 300 mil em dinheiro à loja High End, no Casa Shopping, para pagar pelos equipamentos e serviços”, afirmou no depoimento. “Carlos Miranda disse que era para não emitir nota fiscal e que em razão disso o valor pago seria com desconto e ficaria em R$ 300 mil”, afirmou.
César Amorim relatou ainda que prestou serviços de equipamentos de som para a campanha ao governo do Rio de Cabral em 2010 de forma gratuita. Com isso, posteriormente, em 2014, ele prestou o mesmo serviço para a campanha eleitoral de Pezão, mas que emitiu notas fiscais e os pagamentos foram feitos de modo formal, por cheque ou depósito, segundo o relato.
Questionado pela PF, Amorim afirmou que nunca recebeu repasses dos doleiros de Cabral ou qualquer outro pagamento além daqueles R$ 300 mil de Carlos Miranda. Também negou fazer parte da organização criminosa.