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Empresários lançam manifesto em defesa do meio ambiente

Manifesto defende articulação entre setor público e privado para gerar uma coalizão em defesa do ambiente. (Foto: Agência Brasil)

Um grupo de 53 empresários assinou um manifesto em defesa da articulação entre setor público e privado para gerar uma coalizão em defesa do ambiente, da economia e do bem-estar da população. “O setor privado tem de assumir também essa tarefa, que eu diria hoje é heroica, porque as coisas não estão indo muito bem. Quando, de um lado, nós enxergamos Porto Alegre e, no outro, o Pantanal, alguma coisa não está funcionando. A natureza está dando esse recado”, afirma o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, um dos signatários, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

O documento reúne nomes de diferentes setores. Pedro de Camargo Neto, produtor rural que foi presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e ex-secretário do Ministério da Agricultura, também está entre os defensores do chamado “pacto econômico com a natureza”. “O objeto é mostrar uma união, o empresariado entrando, compreendendo o momento e se colocando interessado em ajudar a resolver, porque não será uma resolução fácil”, afirma Camargo.

O documento começou a ser costurado por Pedro Bueno (CEO do grupo de saúde Dasa), Candido Bracher (membro do conselho de administração do Itaú), Roberto Klabin (conselheiro da Klabin) e Walter Schalka (membro do conselho da Suzano), que reuniram outras figuras do setor privado como Fraga, Camargo, Ana Maria Diniz, José Luiz Setúbal e Rubens Ometto.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Fraga e Camargo criticam a ideia de explorar petróleo na Margem Equatorial, uma proposta que racha o governo Lula atualmente. “A receita adicional (com a exploração de petróleo), acho que seria ínfima perto do ganho que esse sinal (de não explorar) traria para nós”, afirma Armínio. “Queremos ajudar o governo a compreender que não é o momento de explorar petróleo”, diz Camargo. Leia a seguir trechos da entrevista.

– Como o manifesto do pacto econômico com a natureza chegou aos senhores? E qual a importância de divulgá-lo neste momento?

Armínio Fraga: “Não fui do núcleo inicial, mas no momento em que me apresentaram o texto, eu assinei na hora. E, essencialmente, porque eu vejo essa situação como sendo um problema global. O Brasil tem peso, o Brasil pode liderar dando exemplo. O setor privado tem de assumir também essa tarefa, que eu diria hoje é heroica, porque as coisas não estão indo muito bem. Acho que quando, de um lado, nós enxergamos Porto Alegre e, no outro, o Pantanal, alguma coisa não está funcionando. A natureza está dando esse recado. No geral, eu às vezes acho que o Brasil poderia ter ambições que vão além do econômico. O Brasil poderia ter, no mundo verde, um elemento de qualidade de vida, de autoestima. Isso tudo vem junto. É uma frente extraordinária para o Brasil.”

Pedro de Camargo Neto: “Entrei já com um processo de articulação. Não estou na base inicial, mas me identifico com o manifesto. Vivemos um momento único. Tem uma catástrofe, o clima está mudando mesmo e acho que hoje já não se discute mais. Vivemos um passado de negacionismo. Mas o objetivo aqui não é polarizar, é olhar para frente, é unir, é criar consensos. Então, vimos o documento dos Três Poderes da semana passada. Que bom que eles estão lá, também, conversando, se unindo. E vamos construir em cima disso. O objetivo é de união, o empresariado entrando, compreendendo o momento e se colocando interessado em ajudar a resolver, porque não será uma resolução fácil.

– Como o Brasil chegará à COP, no ano que vem?

Pedro de Camargo Neto: “Temos uma característica meio única. Primeiro, os combustíveis fósseis são pequenos nas nossas emissões. Temos os biocombustíveis todos crescendo. Começamos com o álcool lá atrás, agora virou etanol, etanol segunda geração, biodiesel. O que aconteceu na eólica no Nordeste é inacreditável. O que está acontecendo na fotovoltaica também é inacreditável. Então, o Brasil é um país líder. Qual é o maior problema do aquecimento global? Combustíveis fósseis. Então, temos de enfrentar o que os outros estão fazendo, pressioná-los de que eles também têm de caminhar em uma direção que está devagar.

– O governo brasileiro deveria desistir da ideia de explorar petróleo na Margem Equatorial?

Pedro de Camargo Neto: “Estamos aqui para construir, não é para criticar o governo. É para ajudá-lo no propósito. Mas o governo tem uma divergência interna. É claro que tem. Queremos ajudá-los a compreender que não é o momento. Não é o momento porque o Brasil exporta petróleo, mas o mundo não está precisando de petróleo. Você tem de liderar o antifóssil, anticombustível.”

Armínio Fraga: “O governo vai ter de tomar uma decisão corajosa de dar um basta. A receita adicional (com a exploração de petróleo), acho que seria ínfima perto do ganho que esse sinal traria para nós, e o risco ambiental é inaceitável a essa altura do jogo. Tem de ser encarada não como uma decisão puramente econômica de ‘vamos arrumar lá mais uma receita’, mas algo muito maior. O Brasil precisa também cuidar da sua imagem.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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