As empresas brasileiras enfrentam uma situação conflitante quanto aos seus objetivos de ter uma operação menos poluente na prática. Um estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG), em parceria com a plataforma de ação climática CO2 AI, aponta que o País está na liderança global de medidas de descarbonização, mas perde consideravelmente o protagonismo ao ter menos sucesso na redução de gases de efeito estufa, conforme as suas próprias metas estabelecidas.
O relatório Boosting Your Bottom Line Through Decarbonization (Aumentando seus lucros por meio da descarbonização, em português), que está em sua quarta edição, foi produzido com informações de 1.864 executivos atuantes em 26 países dos cinco continentes.
Segundo o documento, 25% das empresas brasileiras já definiram metas para reduzir emissões de gases de efeito estufa, fazendo do Brasil um líder mundial nessa iniciativa, acima da média global, que é de 16%. No entanto, somente 12% dessas companhias conseguiram uma redução efetiva conforme suas ambições, deixando o País abaixo de outros mercados como os da China (19%), dos Estados Unidos (18%) e do Japão (16%), que lideram o ranking.
Otimismo
O diretor executivo e sócio do BCG, Arthur Ramos, é otimista quanto à análise dos dados, e acredita que a discrepância entre o planejamento e a prática no ambiente corporativo brasileiro pode ser explicada pelo fato de que as empresas brasileiras têm metas mais ambiciosas do que as dos demais países.
Além disso, Ramos acrescenta que China e Estados Unidos são países líderes mundiais em emissões de dióxido de carbono (CO2), e proporcionalmente têm maior volume de gases poluentes para mitigar, principalmente para atender às regulações ambientais internacionais para exportação.
“Com o contexto da COP30, que será realizada no Brasil, percebemos o setor empresarial interessado no que pode fazer dentro dessa agenda, dando um plus relevante no País. Por outro lado, o mercado de exportação é muito importante para os países que são grandes emissores, como a China, e eles acabam precisando estar preparados para contextos mandatórios nos quais a emissão de gases poluentes é um fator relevante”, explica o especialista.
Retrocesso
De modo geral, os dados do relatório alertam que houve um retrocesso generalizado entre os países consultados nas medidas corporativas de descarbonização.
Na comparação com 2022, globalmente, houve reduções de até quase 10 pontos porcentuais na elaboração de relatórios sobre emissões nos escopos 1, 2 e 3 de CO2 (emissões diretas e indiretas), queda em definição de metas e baixa redução de emissões, de acordo com o planejado pelas empresas.
No entanto, a pesquisa revelou que as companhias que adotaram medidas de descarbonização relataram ganhos líquidos de, aproximadamente, US$ 200 milhões em média (cerca de R$ 1,16 bilhão). Um retorno anual de mais de 7% em cima dos investimentos feitos por essas empresas em sustentabilidade.