Feliz ano novo para você que começou o ano só depois que o Carnaval acabou. Sinceramente, espero que não seja esse o seu caso.
Eu não sei que mania é essa do brasileiro de empurrar as ações para depois da “grande festa popular” do nosso país. Ok, são cinco dias de folia (embora, em algumas regiões, a função toda se estenda de um final de semana a outro, contabilizando dez dias – DEZ DIAS – de festejos), mas o fato é que, a essas alturas, já se passaram quase dois meses do ano e, pasme, restam apenas outros dez. Assustador, não é?
Sim, para quem deixou de aproveitar os meses de verão para organizar a sua vida: fazer um balanço do ano que passou, estabelecer metas, conferir as finanças, promover os acertos necessários, prever o que vem pela frente e estar prontinho quando “o bicho começar a pegar” de verdade – ou seja, em março. E, veja, eu não estou apenas falando de negócios: estou falando de rotina.
É interessante como essa conclusão parece contraditória com o que muitos compreendem como o “aproveitar a vida”, viver o momento, sorver até a última gota das possibilidades de escapar da realidade…
Escape da realidade. Esse é o ponto. Essa ânsia por tudo que representa uma fuga da prisão diária a que muitos pensam estar submetidos. Um “bota fora” do padrão diário. Inebriar-se com a falsa ideia de que os pequenos prazeres (álcool, sexo, drogas, Netflix) aplainarão as dores. E, no aguardo disso, a ilusão de que procrastinar pode resolver seus problemas que existem agora.
A partir daqui eu nos transporto ao livro “O Poder do Agora”, de Eckhart Tolle. O próprio título nos induz à percepção (spoiler: falsa) de que o que importa é o momento vivido. Porém, o autor nos explica que não existe passado, nem futuro – tudo é apenas uma ilusão da mente. E, pensa bem (usa a mente!): é verdade. O passado é um traço de memória, e o futuro é apenas uma expectativa. Oba! Bora viver como se não houvesse amanhã?
Não, estimado leitor. Porque, se Deus quiser e se os seus exames de saúde estiverem em dia (aliás, já fez o checkup do ano? Fica a dica), o amanhã virá. Aliás, se agir de forma inconsequente, o amanhã não apenas vem, mas te atropela.
A questão é aprender a SENTIR o presente. Dissociar-se da mente e do que ela nos aprisiona em relação ao passado (culpa? Arrependimento? Nostalgia?) e do que ela nos engessa quanto ao futuro (expectativa? Medo? Ansiedade?) para usufruir da beleza que é estar vivo, nesse-exato-momento. Porque a vida é uma sucessão de “agoras”, e o segredo da vida está em percebê-los, de forma consciente.
Beleza. Aí você segue com essa “pulga atrás da orelha” porque, afinal, o negócio teria sido se jogar na “festa da carne” por cinco dias seguidos, vivendo intensamente? Não, porque o tempo do relógio, como chama o autor, é importante para que organizemos a nossa vida – e, eu diria que até para descarregar a nossa ansiedade. Haverá coisas que deverão ser feitas. Afinal, a grande maioria de nós não optou por ser o ermitão do topo da montanha: temos boletos a pagar, sonhos a realizar, compromissos a cumprir. Somos humanos e queremos a plenitude dessa existência, sugar dela todas as alegrias que nos forem possíveis. Apenas não podemos viver na expectativa de atingi-las – e o AGORA é, portanto, fundamental.
E aí, eu pergunto: quanto “agoras” você deixou para trás até o carnaval?