Sexta-feira, 18 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 9 de abril de 2025
Um grupo de seis voluntários que ajudava nos resgates durante a enchente de Porto Alegre em maio do ano passado ingressou na Justiça contra a empresa gaúcha Taurus, pedindo indenização de quase R$ 1,3 milhão. Eles relatam terem sido chamados para salvar crianças ilhadas no entorno do então inundado Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, mas que acabaram resgatando uma carga de armamento.
O processo envolve um pedido coletivo de de R$ 1.270.800 à fabricante, por danos morais. A alegação é de que foram enganados, coagidos e constrangidos na ação, que retirou 3 mil artefatos bélicos de dentro do aeroporto. Dizem, ainda, que que a Taurus mentiu sobre a missão: “Faltou lealdade, informação e assistência no episódio”.
Eles também argumentam terem sido expostos a alto risco. Isso porque não teriam recebido treinamento adequado e nem equipamentos de segurança, como coletes a prova de balas, para carregar o arsenal.
A equipe é formada por surfistas que atuavam havia mais de uma semana em resgates de vítimas e animais nas enchentes recordes do Estado, por terem conhecimento em água e embarcações. Eles teriam sido abordados por um homem, através do aplicativo de mensagens whatsapp, compartilhando um pedido de socorro de um indivíduos que sabia da localização de 100 crianças ilhadas. “A localização é sigilosa, não pode ser exposta para não gerar engarrafamento de barcos”, teria sido a justificativa.
Esse suposto intermediador também alega ser vítima no episódio, ao ser convocado por um homem, que se apresentava nas redes sociais como empresário, para auxiliar na suposta busca de crianças. “Fui coagido, todos nós fomos enganados. A gente participava daqueles grupos ali de resgate (…) Mas o sorriso dos meninos (voluntários) nos vídeos do aeroporto mostra que eles não foram forçados”, rebate o suposto intermediador.
O que diz a empresa
A Taurus Armas S.A. nega ter recrutado voluntários civis e que não tem qualquer responsabilidade sobre a operação, envolvendo armas em processo de exportação. A custódia seria, por isso, da concessionária Fraport, que administra o aeroporto, ao passo que a responsabilidade pela segurança da mercadoria seria da Polícia Federal (PF). Diz, ainda, que contratou empresas terceirizadas e com especialização nesse tipo de resgate, e que todos os envolvidos estavam sendo escoltados, por isso não estavam sob risco.
O governo federal também foi processada, devido ao fato de agentes da PF atuarem no resgate. Na ação judicial é informado que a corporação foi omissa, pois sabia da participação de civis despreparados e permitiu que fizessem o transporte do armamento sem a escolta adequada. O site UOL apurou, à época, que a PF não conferiu a documentação dos voluntários.
Com isso, pessoas estranhas teriam sido permitidas a acessar e permanecer a sós com o armamento, mesmo com uma operação de risco. A Advocacia-Geral da União (AGU), por sua vez, reiterou que a União não teve responsabilidade no episódio e já se apresentou nos autos, atribuindo à Taurus eventuais irregularidades:
“A União, que tinha o dever de proteger a área do terminal aeroviário evitando saques, não seria a responsável pelo transporte dos materiais ou armazenamento dos mesmos em outro local”.
Outro ponto incluído no processo é da veiculação indevida de imagens do grupo no programa “Fantástico”, da Rede Globo. Em reportagem exibida na atração dominical, todos foram identificados como “agentes da Polícia Federal”, o que supostamente ensejaria indenização.
“Constrangidos pelos prepostos da Taurus S/A, foram expostos a essa circunstância delicadíssima, e, na prática, organizaram toda a logística envolvendo o transporte das armas para fora do aeroporto, enquanto os funcionários da empresa e agentes da PF apenas assistiam”, acrescenta a ação.
Os autores pedem, ainda, a atuação do Ministério Público Federal (MPF) no caso, por se tratar de “assunto de interesse público e social”. Para os advogados do grupo, o resgate de armas por civis é um problema de segurança pública e nacional.
O processo aguarda manifestação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sediado em Porto Alegre e que tem juridição sobre os três Estados da Região Sul do País. (com informações são do jornal Folha de S. Paulo).